TESES

Quadriênio 2008-2005

Total de teses defendidas: 48

 TESES DEFENDIDAS EM 2008

Total de teses defendidas:  15

Ana Crelia Penha Dias

Título da tese: Retratos Dispersos: artimanhas dos textos de Silviano Santiago

Orientador(a): Profª. Drª. Rosa Maria de Carvalho Gens

Páginas: 198

Resumo

A escrita de Silviano Santiago desperta críticas ambivalentes: de um lado estão os que aplaudem de pé o percurso de um renomado crítico, acima de todas as
suspeitas; em contrapartida, localizam-se, diante de sua obra ficcional, figuras que, se não lançam sobre ela ácidos comentários, atêm-se ao elogio de sua obra
crítica e, no silêncio, acabam por questionar a qualidade estética dessa última produção. A investigação da escrita ficcional de Silviano Santiago e suas
estratégias são o alvo da discussão desta tese. A escolha do corpus − Uma história de família, Keith Jarrett no Blue Note, De cócoras, O falso mentiroso e Histórias mal contadas, Em liberdade e Viagem ao México − justifica-se por três aspectos, primordialmente, que norteiam a pesquisa: o primeiro é o tom de
(des)continuidade das características dos sujeitos: o moribundo, os homossexuais, o aposentado, todos marcados pelo traço do isolamento e da
atitude de construção da identidade via memória. O segundo diz respeito ao conceito de simulacro, que se desdobra e se intensifica, principalmente, nos dois
últimos textos, num processo de construção irônico-corrosiva. O terceiro aspecto que, de certa forma, retoma os dois anteriores, estabelece uma possível
intersecção entre a atividade de crítico e ficcionista do escritor.

Ana Ligia Matos de Almeida

Título da tese: Não sou Machado de Assis: narrativas de Bernardo de Carvalho

Orientadora: Profª. Drª. Rosa Maria de Carvalho Gens

Co-orientadora: Profª. Drª. Heloisa Buarque de Hollanda

Páginas: 182

Resumo

Esse estudo sinaliza a incorporação de novas vozes autorais na cena literária brasileira. O seu objetivo é esboçar o projeto estético do escritor Bernardo Carvalho, tendo como pontos de apoio seus romances Teatro, As iniciais, Nove noites, Mongólia e O sol se põe em São Paulo. Ele orienta sua escrita em função de um estado permanente de suspensão, vislumbrando uma literatura que exige particularidade como diferença entre suas obras e as de outros escritores. Dá feição então a um texto que se quer produzido pela linguagem da negação. Mas, o seu caráter metaficcional formula uma original pedagogia, constituída de peças fundamentais, como narratividade e autoparáfrase. É sua auto-reflexividade que revela seu desejo obsessivo de ultrapassar aquilo que simulou como escrita, o plano de refazer-se para romper o material que lança para formulá-la, a condição autofágica como meio de sobreviver ao seu próprio modelo de escrita. Em exercício permanente, sobrevive ainda da força de uma representação que se vale de sua própria deriva, conduzindo seu edifício mimético para a particularidade de cada organismo narracional. A ambivalência constitutiva de seu narrador performático permite a presença/ausência do autor-encenador que se revela como sua interface. O traço e o apagamento são marcas recorrentes do sujeito e suas implicações identitárias. Finalmente, não menos importante é a figuração do autor que se define como uma espécie de auto-retrato escrito.

Ana Maria dos Santos Pinto

Título da tese: Alomorfia prefixal numa abordagem otimalista: análise de /iN-/, /aN-/ E /deS-/

Orientador(a): Prof. Dr. Carlos Alexandre Gonçalves

Páginas: 117

Resumo

Este trabalho investiga a alomorfia dos prefixos /iN-/, /aN-/ e /deS-/. Com os instrumentos da Teoria da Otimalidade (Prince e Smolensky, 1999), buscamos abordar um tema conhecido via nova proposta teórica. A motivação para a escolha desses prefixos foi o alto grau de polimorfismo que apresentam. A OT,
por seu aspecto econômico, é capaz de esclarecer o resultado do processo com mais rapidez, eficiência, clareza e objetividade que outros modelos teóricos como o Estruturalismo e o Gerativismo. Concluímos o trabalho mostrando a superioridade da OT na análise desse fenômeno.

Camillo Cavalcanti

Título da tese: Fundamentos Modernos das Poesias de Alberto de Oliveira

Orientador(a): Prof. Dr. Sérgio Martagão Gesteira

Páginas: 155

Resumo

Essa tese pretende provar fundamentos modernos na poética de Alberto de Oliveira, por uma minuciosa leitura. Sendo um fenômeno literário muito específico da cultura brasileira, o Parnasianismo mudou de um esquema francês para uma nova e original poética. Isso deve ser cuidadosamente considerado, pois o programa do Romantismo de Jena é realizado pela poética de Alberto de Oliveira, para além das profecias de Schlegel chamadas de “arte futura”. De fato, a maioria dos parnasianos brasileiros confirma essa realização, solicitando uma revisão urgente sobre suas particularidades, e talvez sobre o que é chamado de Parnasianismo brasileiro (se estilo de época é ainda importante atualmente). Cinco aspectos da poética de Alberto de Oliveira foram considerados fundamentos modernos: relação com o programa do Romantismo de Jena; ruína e alegoria segundo Walter Benjamim; erotismo como entre-texto transgressor contra o texto positivista repressor, segundo Eduardo Portella; Natureza contemplada como um Absoluto nos corpos concretos, segundo Schelling; memória como uma recriação auto-reflexiva e auto-transformativa da experiência de vida, redefinida no discurso poético, segundo Bergson, Bachelard e Deleuze.

Cirineu Cecote Stein

Título da tese: A Pré-indicação Prosódica para as Orações Subordinadas Adverbiais no Português Brasileiro e no Francês

Orientador(a): Prof. Dr. João Antônio de Moraes

Páginas: 273

Resumo

A pré-indicação prosódica corresponde à possibilidade de a melodia vocal sugerir, além de informações sintáticas, pistas que transmitem ao ouvinte informações adicionais sobre o que virá a ser enunciado. Esta pesquisa objetiva: 1. confirmar a existência do fenômeno preditivo no português brasileiro (PB) e no francês; 2. identificar, em duas orações principais, os comportamentos específicos dos componentes prosódicos responsáveis pelo valor pré-indicativo
das nove subcategorias elencadas pela gramática tradicional para as orações subordinadas adverbiais (causa, comparação, concessão, conformidade, condição, conseqüência, finalidade, proporção, tempo). Foram realizados dois testes perceptivos. O primeiro, cujo objetivo foi verificar quais das nove subcategorias seriam mais claramente reconhecidas pré-indicativamente, evidenciou seis contornos prosódicos para o PB: causa, conseqüência, finalidade (caracterizados pelo movimento ascendente da F0 a partir da sílaba tônica final), conformidade, concessão e tempo (caracterizados pelo movimento descendente da F0 a partir da sílaba tônica final); mas nenhum de forma significativa para o francês. O segundo teste foi realizado a partir da ressíntese
de uma versão neutra e de uma versão monotônica das duas orações principais para o PB, manipulando-se a duração e a F0. Foi possível isolar os componentes prosódicos responsáveis por cada uma das pré-indicações, mensurando suas variações. De todas as ressínteses efetuadas,
selecionaram-se duas para cada subcategoria. Foi possível identificar uma delas, em cada subcategoria, como mais representativa de cada uma das pré-indicações.

Palavras-chave: Prosódia, pré-indicação prosódica, predição prosódica, contorno prosódico, orações adverbiais, sintaxe.

Fabiana da Silva Campos Almeida

Título da tese: Micro Atlas fonético do estado do Rio de Janeiro (Micro AFERJ) uma contribuição para o conhecimento dos falares fluminenses

Orientador(a): Profª. Drª. Silvia Figueiredo Brandão

Páginas: 157

Resumo

Estudo dialectológico, de cunho fonético-fonológico, com vistas à descrição da fala de doze comunidades fluminenses, com base nos preceitos atuais da Geolingüística e em parâmetros de natureza sociolingüística. Panorama físico e sócio-histórico do Estado do Rio de Janeiro, bem como das localidades-alvo da pesquisa. Critérios adotados para elaboração do questionário fonético-fonológico (QFF), para escolha das localidades-alvo, para seleção dos informantes e
para recolha e tratamento dos dados. Observação de alguns aspectos dos falares fluminenses. Apresentação de cartas 306 fonéticas.

Flávia Vieira da Silva do Amparo

Título da tese: -Sob o véu dos versos: o lugar da poesia na obra de Machado de Assis

Orientador: Antonio Carlos Secchin

Co-orientador: Claudio Murilo Leal

Páginas: 346

Resumo

Cem anos após a morte do escritor Machado de Assis, muito se tem falado sobre o mestre da prosa, mas ainda existe um imenso preconceito quando o assunto é a poesia do escritor. Procurando romper o véu que separa o poeta do prosador, esta pesquisa tem como principal objetivo conhecer e recompor a trajetória de Machado de Assis desde os poemas da juventude, dispersos nos jornais das décadas de 50 e 60 (séc. XIX), passando pelos primeiros livros de poesia – Crisálidas e Falenas –, e por algumas comédias compostas em verso, até chegar a sua única obra poética da maturidade: Ocidentais. Veremos como as temáticas da poesia prenunciam questões trabalhadas posteriormente na ficção machadiana, assim como se filiam a um legado poético de especial valor no universo literário. Sobretudo, procuraremos resgatar o Poeta por excelência, que ultrapassa o sentido estrito da palavra, como um intérprete da vida e do homem, disposto a elaborar uma poética – sentido essencial da obra de arte -, independente da maneira usada para revelá-la aos seus leitores.

Palavras-chave: Machado de Assis, poesia, Crisálidas, Falenas, Ocidentais, ficção, comédias.

Izabela Guimarães Guerra Leal

Título da tese: Doze nós num poema: Herberto Helder e as vozes comunicantes

Orientador: Prof. Dr. Jorge Fernandes da Silveira

Páginas: 152

Resumo

Os pontos de contato entre a poética de Herberto Helder e a dos autores com os quais dialoga, tanto em seus livros de tradução como também em outras práticas, tais como a citação e a “eleição” para uma antologia, demonstram que através dessas conexões com outros autores o poeta constrói a sua própria tradição. A relação do poeta com a língua materna é paradoxal e violenta. Por um lado, ele precisa desprender-se dela para que encontre o seu próprio idioma, por outro, deixará sempre em evidência uma dívida insuperável para com ela. Assim como ocorre com o tradutor quando tenta verter uma língua estrangeira para a sua própria, o poeta se depara com a alteridade na realização de uma atividade complexa: a escrita. O reconhecimento da alteridade é,
portanto, fundamental para que se dê a criação, já que é preciso passar pela voz do outro, pelo reino do passado e da tradição, para que ambos, tradutor e poeta, afirmem o seu lugar. A tarefa tradutória pode lançar luz sobre a prática poética porque ambas necessitam de uma espécie de maturação das palavras, um processo de gênese e nascimento do autor no seio de uma língua que, apesar de ser sua, se torna também estrangeira pelas alterações que sofre em sua estrutura.

Palavras-chave: Poesia, Tradução, Escrita, Tradição, Memória.

Jorge de Azevedo Moreira

Título da tese: Conotações e construção de sujeitos no discurso: uma análise do discurso midiático da boa forma física

Orientador(a): Profª. Drª. Maria Aparecida Lino Pauliukonis

Páginas: 228

Resumo

Esta tese propõe uma abordagem discursiva de um tema tradicional dos estudos semânticos: os conceitos de denotação e conotação. Contudo, em lugar de
considerarmos esta como derivada daquela, demonstramos que, no discurso, é a conotação que assume um papel englobante. Assim, a denotação não constitui um sentido fora de contexto, mas sim um efeito de sentido específico, entre muitos outros possíveis, o que caracteriza a natureza conotativa da linguagem. Se há efeitos de sentido, é porque há sujeitos, os quais representam entidades ao mesmo tempo sociais e discursivas, fonte e produto do sentido. Buscamos, desse modo, mostrar como os sujeitos se constroem no discurso a partir dos efeitos conotativos, configurando diferentes tipos de ethos. Escolhemos como corpus textos midiáticos que tratam da boaforma física (nas revistas Corpo a Corpo e Boa Forma), em razão da sua natureza persuasiva. O estudo do ethos dentro dos processos persuasivos permite assinalar o poder de influência da linguagem. Para cumprir esta tarefa, seguimos principalmente os modelos da análise semiolingüística do discurso, delineada por Patrick Charaudeau.

Palavras-chave: Análise do Discurso; semântica; comunicação de massa e linguagem; ethos; Língua Portuguesa

Luciana Paiva de Vilhena Leite

ítulo da tese: Do clássico ao contemporãneo: estratégias discursivas em textos de cartas do século XVI ao século XX

Orientador(a): Profª. Drª. Dinah Maria Isensee Callou

Páginas: 247

Resumo

Análise qualitativa e quantitativa das estratégias discursivas presentes em textos de cartas em um período que vai do século XVI ao século XX à luz da
Semântica Lingüística, da Teoria Semiolingüística do Discurso, da Teoria da Enunciação e da Sociolingüística Laboviana. Verificação microestrutural e
macroestrutural das estratégias mais recorrentes em função do nível de simetria discursivo. Caracterização das relações sócio-histórico-discursivas existentes no Brasil através das missivas escritas durante cinco séculos.

Márcia Cristina de Brito Rumeu

Título da tese: A Implementação do ‘você’ no Português Brasileiro Oitocentista e Novecentista: um estudo de painel

Orientador: Profª. Drª. Célia Regina dos Santos Lopes.

Páginas: 276

Resumo

O objetivo principal deste estudo é investigar, com base em cartas pessoais oitocentistas e novecentistas da família Pedreira Ferraz –
Magalhães, o processo de inserção de Você no quadro pronominal do PB e o seu nível de coexistência com o Tu. A partir do rigoroso controle do
perfil sociolingüístico dos informantes, à luz de Lobo (2001a), analisa-se o comportamento lingüístico dos indivíduos ao longo de suas vidas, em
fins do século XIX e na primeira metade do século XX (panel study cf. Labov 1994). O caráter inovador deste trabalho está na tentativa de
elaboração de uma proposta metodológica para o estudo de painel voltado para sincronias passadas. Partindo do pressuposto de que Você apresenta, no século XVIII, um caráter híbrido, comportando-se como uma forma pronominal de tratamento (Rumeu, 2004), postulam-se, para fins do XIX e para a
primeira metade do século XX, indícios mais nítidos da suapronominalização e conseqüente inserção no quadro pronominal do PB (cf. Duarte 1993, 1995). Isso se deve ao fato de, no século XIX, fase de transição, a forma Você ser empregada como um tratamento de prestígio, usado pela elite brasileira nas cartas de pessoas ilustres (Soto, 2001) e, ao mesmo tempo, ser adotado no uso doméstico (Lopes e Machado, 2005).

Maria Spano

Título da tese: A ordem verbo-sujeito no português brasileiro e europeu: um estudo sincrônico da escrita padrão

Orientador: Profª. Drª. Maria Eugênia Lamoglia Duarte

Páginas: 191

Resumo

Levando em consideração os resultados de estudos os quais apontam que o Português Brasileiro (PB) apresenta um comportamento bastante particular em relação ao Português Europeu (PE), o objetivo geral desta pesquisa é descrever, através de um levantamento quantitativo, as características da ordem VS nas construções declarativas na escrita padrão, veiculada na imprensa brasileira e portuguesa atuais, com o intuito de apontar semelhanças e/ou diferenças entre as variedades estudadas. Mais especificamente, este trabalho pretende refletir sobre o estatuto da ordem VS, considerada segundo a Teoria de Princípios e
Parâmetros (Chomsky, 1981), uma das propriedades que caracterizam o parâmetro do sujeito nulo. Busca-se, portanto, verificar se o PB, que se afasta das línguas de sujeito nulo, especialmente do PE, impõe mais restrições à ordem V SN do que a variedade européia. A fundamentação teórica que sustenta esta pesquisa alia as abordagens da Sociolingüística Variacionista (Labov, 1972; 1994), no tocante ao levantamento e tratamento estatístico dos dados e do modelo de Princípios e Parâmetros (Chomsky, 1981) quanto à possibilidade de analisar a variação interlingüística e associar possíveis diferenças a diferentes marcações (positiva ou negativa) em relação a um determinado parâmetro.Os resultados revelam que as variedades se assemelham quanto à significativa predominância da ordem SV e à restrição do uso da ordem VS e se distanciam em relação ao tipo de configuração empregada para a ordem VS: enquanto o PE utiliza, independentemente do número de argumentos do verbo, a configuração VXS, o PB se limita a construções monoargumentais com a configuração XVS.

Palavras–chave: Ordem Verbo-Sujeito, Português do Brasil e de Portugal, Parâmetro do Sujeito Nulo.

Mayra Cristina Guimarães Averbug

Título da tese: Aquisição em Português Brasileiro: o parâmetro do objeto nulo

Orientador(a): Profª. Drª. Maria Eugênia Lamoglia Duarte

Páginas: 236

Resumo

O principal foco da tese é examinar a representação de objeto direto e, secundariamente, de sujeito, com base na produção de três crianças em fase de
aquisição em PB como L1, acompanhadas longitudinalmente de 01;10,25 a 05;11,12 de idade, à luz do Modelo de Princípios e Parâmetros do quadro gerativista. Os objetos nulos anafóricos representam grande parte dos dados, principalmente quando o antecedente é [- animado, + específico] e proposicional, seguidos de DPs. Há um emprego inexpressivo do pronome nominativo e sequer um dado de clítico acusativo de
3a pessoa. Até 02;10 de idade, desenham-se padrões de desenvolvimento bastante diferenciados, com uma maior produção de nulos anafóricos por duas das três crianças. A partir de 03;01, há uma maior convergência de valores. E isso significa que, mesmo com gramáticas intermediárias distintas, a gramática final é a mesma, pois tendem a ajustar a marcação do valor positivo para o parâmetro do objeto nulo. O sujeito nulo é a estratégia preferencial das crianças, seguido por pronomes. Fica confirmada a assimetria sujeito objeto. A proporção de sujeitos nulos diminui gradualmente, enquanto vão sendo substituídos principalmente por pronomes, seguidos de DPs e nomes nus. Concomitantemente, o uso de objetos nulos sobe. Essas evidências de continuidade são
tão fortes, no sentido de apresentar similaridades ao longo do processo com as propriedades da gramática-alvo, que parecem indicar que o desenvolvimento do conhecimento lingüístico da criança caminha na direção do ajustamento dos parâmetros de sujeito e objeto em PB.

Palavras-chave: Aquisição de objeto em PB; parâmetro do objeto nulo; continuidade; assimetria sujeito objeto.

Patrícia Teles Alvaro

Título da tese: Escalarização e mesclagem na polissemia do até: um estudo das relações linguístico-cognitivas do uso dos operadores escalares

Orientador(a): Profª. Drª. Maria Lúcia Leitão de Almeida

Páginas: 232

Resumo

Nesta pesquisa, estudamos o elemento gramatical até a fim de descrever seu comportamento lingüístico-cognitivo. Nosso interesse justifica-se uma vez que os
diferentes usos do até vêm sendo apresentados como homônimos. Assim, nos estudos gramaticais prescritivos, encontramos as classificações: preposição, advérbio, partícula denotativa, partícula de inclusão e nos estudos lingüístico-descritivos, o até classifica-se discursivamente como operador argumentativo. Procuramos depreender as características sintático-semântico-pragmáticas desses usos, o que nos levou a um padrão convergente de operação escalar, ou
seja, um elemento gramatical que opera a escalarização de valores de espaço, de tempo, de número e de qualidades. Um Esquema de escala está subjacente a
essa operação lingüística de escalarização, sendo o eixo prototípico da rede polissêmica do funcionamento lingüístico-cognitivo do até.
Tais assunções estão embasadas no quadro teórico cognitivista, para o qual convergem os estudos de Lakoff (1987), Kay (1997), Sweetser (1996), Fauconnier
(1997), Salomão (1999), Almeida (1995) entre outros. Sob essa ótica, temos esquemas conceptuais, adequados a nossas crenças e experiências, com os
quais acessamos mapeamentos referenciais entre domínios. Perfazemos nossa análise, com base nos conceitos de esquemas imagéticos, espaços-mentais,
MCIs, mesclas conceituais, princípios constitutivos e governadores da compressão das Relações Vitais e Escala e outros pressupostos implicados na
compreensão do fenômeno da linguagem, evidenciando os fatores cognitivos e interacionais na negociação de sentidos. A noção de prototipicidade também é
relevante uma vez que, na descrição, entendemos que os diferentes usos do até constituem uma rede polissêmica. O até se enquadra em uma categoria de escalarizadores, ou seja, elementos gramaticais que promovem a escalarização de valores. A escala há muito vem sendo apontada nos estudos lingüísticos. Trabalhos de Ducrot & Anscombre 11 (1981), Fauconnier (1975), Kay (1994), Ilari (2003) e Almeida (2005) tomam a noção de escala para explicar o funcionamento argumentativo de elementos gramaticais. Recentemente, nos estudos cognitivos da linguagem, Fauconnier (2002) refere-se à escalarização como uma ferramenta central para a operação cognitiva de compressão e conseguinte mesclagem conceptual. Nesta pesquisa, mostramos que o uso do até promove escalarização de noções de espaço, de tempo, de número, sem gradação de juízo de valor, o que chamamos de escalarização de quantidade. O uso do até promove também a escalarização de propriedades, o que chamamos de escalarização de qualidade, nesse caso, com gradação de juízo de valor. O uso do até dispara um esquema de deslocamento até um ponto-limite. Esse deslocamento é conceptualizado em função de um Esquema Imagético de Percurso, ou seja, de deslocamento em uma escala de início-meio-fim, advinda da nossa experiência espacial concreta, baseada em um Esquema de Escala. A conceptualização das escalarizações de tempo e de número são metaforizações do deslocamento em uma escala mais concreta, a espacial, para o deslocamento em escalas mais abstratas. Na escalarização de propriedades, chamada de escalarização qualitativa (com gradação de juízo de valor), o elemento até dispara o enquadramento da situação em uma escala, sinalizando um ponto-limite. Além disso, promove um rearranjo dos elementos das categorias em questão, uma vez que provoca a inclusão de um elemento não-previsto na categoria. Com isso, há uma redefinição das características do alvo X de acordo com o valor do novo elemento Y, introduzido pelo até. O uso do até pode, nesse caso, deflagrar a construção de um pressuposto de condicionalidade: Se X faz até Y, então pode fazer Z, em que Z e Y são valores graduados pela expectativa de um ego. Em termos sintáticos, o até vem à esquerda do termo introduzido como limite. Na escalarização quantitativa, exerce papel de núcleo do sintagma preposicional (Sprep) que funciona como adjunto adverbial. Na escalarização qualitativa, o até não ocupa posição nuclear no sintagma, exercendo papel de expressão qualitativa (cf. Mateus, 2003). Na descrição baseada na teoria dos espaços-mentais (Fauconnier, 1985), o até pode ser entendido como um construtor de espaço mental, que provoca aconstrução de um Espaço de escalarização, em que a informação dada vai ser conceptualizada, podendo ser uma operação com ou sem mesclagem conceitual. Ao longo desta tese, corroboramos a idéia que se operamos marcas gramaticais de escalaridade fazemos isso porque temos habilidade cognitiva para tal. Isso porque os padrões cognitivos, que são governadores da conceptualização lingüística, baseiam-se nos esquemas imagéticos, tais como o Esquema da escala estruturado a partir de experiências humanas.

Renata Flavia da Silva

Título da tese: Quatro passeios pelos bosques da ficção angolana

Orientador(a): Profª. Drª. Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco

Páginas: 171

Resumo

Inspirado nos passeios empreendidos por Umberto Eco, o presente trabalho tem por objetivo a análise de quatro obras ficcionais escritas por autores angolanos, a fim de detectar algumas tendências da ficção angolana contemporânea, a partir de semelhanças e divergências encontradas nas narrativas, produzidas nos fins do século XX e nos primeiros anos do século XXI, na virada do segundo para o terceiro milênio. As obras ficcionais O vendedor de passados, de José Eduardo Agualusa, Um anel na areia: estória de amor, de Manuel Rui, Predadores, de Pepetela, e Vou lá visitar pastores, de Ruy Duarte de Carvalho compõem o corpus analisado. A capacidade crítica de retratar e pensar a complexa cena contemporânea faz das obras ficcionais selecionadas um locus propício à investigação de novas configurações de tempo e espaço, de novas identificações e interpretações suscitadas pelas mudanças paradigmáticas históricas e culturais sofridas pela sociedade angolana. A mobilidade proposta como forma de análise do mundo real focalizado sob vários ângulos e sob técnicas de indagação variáveis, nas páginas da ficção, é o ponto de partida desses passeios, que se propõem investigar espaços narrativos, nos quais ocorrem modificações das paisagens, o que implica uma nova interpretação da realidade nacional. Tais estratégias de leitura corroboram a concepção da literatura como um instrumento de poder, capaz de colaborar para a conscientização do homem contemporâneo, para contestação do status quo estabelecido, em favor de uma multiplicidade e de uma pluralidade sócio-cultural.

Palavras-chave: Literatura angolana; ficção contemporânea; deslocamento; multiplicidade.

TESES DEFENDIDAS EM 2007

Total de teses defendidas:  09

André Luiz dos Santos

Título da tese: Caminhos de Alguns Ficcionistas Brasileiros Após as Impressões de Leitura de Lima Barreto

Orientador(a): Profª. Drª. Rosa Maria de Carvalho Gens

Páginas: 194

Resumo

Este estudo traz ao conhecimento do público leitor a literatura desconhecida de alguns escritores do início do século XX. A partir do livro de críticas de Lima
Barreto – Impressões de Leitura -, que trata de artigos lançados na imprensa por ocasião da publicação dos autores estreantes, traça-se um corpus que pesquisa os romancistas. O critério para decidir os escritores a serem estudados é orientado pelo teor crítico assinalado por Lima Barreto e pela repercussão das obras na época de seus lançamentos no mercado editorial. Assim, os autores selecionados para esta revisitação são: Domingos Ribeiro Filho, Albertina Bertha e Enéas Ferraz. O primeiro, com o romance O Cravo Vermelho, publicação de 1907. Albertina Bertha, autora mais conhecida dos três, com o romance Exaltação, lançado em 1916. E, por último, Enéas Ferraz, com o romance História de JoãoCrispim, de 1922. Do estudo de O Cravo Vermelho, além de ressaltar a
permanência do tema amor na literatura do início do século XX, surge a possibilidade de analisar as crônicas do autor, também desconhecidas e publicadas na Revista Careta, no período de 1919 a 1934. Com a leitura de Exaltação, nasce o interesse por rever o papel da mulher na sociedade brasileira, visto que o romance é a voz ficcional que clama pela libertação dos desejos femininos. Com História de João Crispim, ressurge Lima Barreto, pois o romance de Enéas Ferraz é uma biografia romanceada do autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma. Desse percurso, conclui-se que o passado historiográfico da literatura brasileira precisa ser revisto.

Edimara Luciana Sartori

Título da tese: Imagens Líquidas na Obra de Augusto Abelaira: sujeito e história na pós-modernidade

Orientador(a): Profª. Drª. Luci Ruas Pereira.

Páginas: 224

Resumo

Neste trabalho, são estudados quatro romances do escritor português Augusto Abelaira: As boas intenções (1963), Sem tecto, entre ruínas (1979), Outrora agora (1996) e Nem só mas também (2004), partindo de uma análise que privilegia uma abordagem da perspectiva histórico-social. O estudo se propõe a analisar tanto o aspecto formal como o temático dos romances, procurando mostrar a convergência entre os dois planos na significação da obra. A escolha de romances publicados em diferentes momentos da produção do escritor serve para podermos acompanhar o desenvolvimento dos motivos recorrentes e
também suas variações. As análises feitas mostram o constante entrecruzar do material histórico e do ficcional, por vezes evidenciando fronteiras fluidas, tênues, não só no aspecto temático como no estrutural, em que fica evidente a hibridização dos gêneros literários e de diferentes estéticas literárias. Os romances analisados encenam o período mais recente da modernidade a partir da segunda metade do século XX, cuja marca é a velocidade das transformações culturais, seja no progresso tecnológico e científico, seja nas mudançascomportamentais, em que surge um espaço assinalado pela sensação de desconforto e intranqüilidade. A abordagem teórica se vale principalmente dos estudos literários de René Bourgeois, Linda Hutcheon e Umberto Eco, e dos estudos históricos e sociais de Eric Hobsbawm, Louis Dumont, Richard Sennett, Anthony Giddens, Gilles Lipovetsky e Zygmunt Bauman, inserindo este trabalho no campo de pesquisa que explora as relações entre literatura e história.

José Manuel Teixeira Castrillon

Título da tese: A Tribo das Borboletas Azuis Ambientação sertaneja e estética em Fagundes Varela.

Orientador(a): Professor Doutor Sérgio Fuzeira Martagão Gesteira

Páginas: 128

Resumo

A presente tese investiga a vertente cabocla, ou sertaneja, na poesia brasileira de meados do século XIX, tendo como referência principal Fagundes Varela. Nesse percurso, buscou-se compreender os mecanismos atuantes na formação do cânone da poesia romântica e caracterizar parte da recepção desta produção. A indagação sobre um possível e intencional silenciar dessa poética teve enfoque significativo, bem como o de alguns de seus agentes, marcos cronológicos e teóricos. Buscou-se, com isso, atualizar a leitura de nossa poesia romântica, prejudicada, talvez, por alguma idealização e outros fatores intervenientes.

Luís Claudio de Sant’Anna Maffei

Título da tese: Do Mundo de Herberto Helder 

Orientador(a): Prof. Dr. Jorge Fernandes da Silveira

Páginas: 504

Resumo

A longa obra de Herberto Helder, dos mais importantes poetas portugueses do século XX, pode ser entendida como um longo poema único, o que fica sugerido já pelo título do livro que reúne a maior parte da produção do autor, Ou o poema contínuo. A leitura crítica deste poema, logo, exige que se investiguem os recorrentes temas que ali se vêem, tais como: o amor, a morte, a maternidade e tantos outros, mas sempre se tendo em conta a enorme
singularidade que estes temas recebem na poesia de herbertiana. Além disso, esta poesia traz para si, de modo transformante, discursos de variadas origens, como a religiosidade, a alquimia, a magia natural, a filosofia, a mitologia, etc., e cria, a partir deles, um discurso próprio, em que a linguagem poética é reinventada e em nada obedece às fontes das quais vai beber. Portanto, realiza-se uma poesia de máxima abrangência, que chega, também, ao estabelecimento de uma tradição bastante própria, que envolve não apenas autores e obras, mas também uma fortíssima peculiarização do próprio idioma.

Maria das Neves Pereira

Título da tese: Atlas Geolinguístico do litoral Potiguar ALiPTG

Orientador(a): Profª. Drª. Dinah Maria Isensee Callou

Páginas: 136

Resumo

Pesquisa de natureza dialetológica, no âmbito da Geografia Lingüística para a elaboração de cartas fonéticas, léxicas e morfossintáticas do falar norte-rio-
grandense na região litorânea. Panorama histórico e geográfico do Rio Grande do Norte. Procedimentos metodológicos. Constituição do corpus. Análise dos
dados. Critérios para organização e leitura das cartas. Aspectos fonéticos, morfossintáticos e lexicais. As cartas.

Murilo da Costa Ferreira

Título da tese: O entrelugar da nação pedagógica e da nação performativa portuguesa em As QUYBYRYCAS

Orientadora: Prof. Dr. José Clécio Basílio Quesado

Páginas: 339

Resumo

As Quybyrycas, obra escrita por Antônio Quadros, são uma epopéia pós-moderna, transversal à épica pós-colonial, que se centra nas antinomias da modernidade da cultura portuguesa e no potencial de seus debates. A reescrita da história do povo português, através de uma nova semiotização épica do discurso, não faz eco com o “nacionalista místico e sebastianista racional” da ótica de Fernando Pessoa. Ao contrário, representa contemporaneamente um meio de contrapor-se a toda e qualquer forma mitificante que se construiu em torno da figura de D.Sebastião e seus sequazes que se envolveram na derrota de Alcácer-Quibir e, metonimicamente, na de Portugal. Em particular, esta obra enuncia uma proposição de realidade ao relatar as formas de racionalidade presentes na estrutura política, cultural e econômica de Portugal, do século XVI, que se tornaram implausíveis por seu carácter colonial, escravista e racialmente excludente. Também ao explorar a história da cumplicidade com o terror sistemático e racionalmente praticado como forma de
administração política e econômica dentro de Portugal e, fora dele, nas colônias. Ao tornar inteligível e legível o processo da guerra e seus interesses político e
econômico e do terror colonial, As Quybyrycas intentam imaginativamente revisitar a experiência de expansão colonial portuguesa quinhentista e filtrá-la em busca de recursos com que promover as aspirações políticas contemporâneas de independência das colônias portuguesas em África, no século XX. Assim, a presente tese buscou investigar a cultura da nacionalidade portuguesa em sua produção literária épica através de As Quybyrycas. Na problematização do objetivo visado, operacionalizamos alguns conceitos tais como o de escrita, de identidade, de suplemento, de entrelugar, de hibridismo, de modernismo e Pós-Modernismo e de outros que serão utilizados durante a pesquisa. Fez-se necessária também a definição teórica do discurso épico e dos modelos que dele derivam, pois, o elemento engendrador da pesquisa tem em conta a questão do Espaço Lírico, concebido como uma elaboração sígnica da instância literária, o Eu lírico, parte integrante da estrutura épica.

Olimpia Maria dos Santos

Título da tese: A alegórica “materna mãe” angolana – uma reescrita da história e das tradições pelos romances de Boaventura Cardoso

Orientador(a): Profª. Drª. Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco

Páginas: 187

Resumo

Esta tese, pautada na linha de pesquisa Literatura e Cultura, teve por objetivo analisar, nos romances de Boaventura Cardoso, a perspectiva sob a qual o escritor se apropria da história e das tradições de Angola. Os três romances de Boaventura Cardoso estudados aqui pontuam momentos distintos da história de Angola: o primeiro foca a pré-independência, o segundo apreende o fraccionismo, em 1977, e o terceiro traz como contexto as guerras civis, nas décadas de 1980 e 1990. Esta tese também teve por objetivo investigar como o discurso ficcional correlaciona esses diversos contextos históricos. Partindo do pressuposto de que os romances de Boaventura Cardoso operam com significados ocultos da história e da revisitação criativa de mitos e crenças da terra local, a abordagem teórica seguiu o viés alegórico de Walter Benjamin. A leitura dialógica entre a reapropriação da história e dos mitos procurou responder às seguintes questões: a) Sob que viés, o autor apreende a história de Angola? b) Que papel ocupa a reescritura da tradição angolana, dentro dos romances cardosianos? c) Que correlação pode ser estabelecida entre a história e a elaboração do texto ficcional? Com base nessa linha de raciocínio, esta tese nos levou a concluir que os romances de Boaventura Cardoso repensam, corrosiva e poeticamente, a história de Angola, denunciando uma degradação desde os tempos da pré-independência até os das décadas das guerras civis, em 1980 e 1990. Por outro lado, a recriação do imaginário banto-africano demonstra inúmeros atravessamentos culturais presentes no tecido histórico e cultural de Angola, além de apresentar a revisitação contumaz das tradições como um espaço de resistência em que o texto ficcional procura reinventar um país mais liberto.

Patricia Ferreira Neves Ribeiro

Título da tese: O Ethos no colunismo político Entre Razão e Emoção

Orientador(a): Profª. Drª. Maria Aparecida Lino Pauliukonis

Páginas: 193

Resumo

Esta tese apresenta uma análise de provérbios recriados pelo repórter político Villas-Bôas Corrêa, em 30 artigos de opinião publicados no Jornal do Brasil, entre 1998 e 2007. Examinamos os referidos fragmentos textuais, focalizando a imagem (ethos) que o enunciador projeta de si mesmo por meio do discurso re-enunciado. Em vista do objeto de estudo selecionado, adotamos uma orientação teórica em que são conjugados pressupostos relativos ao discurso e à enunciação. Para apontar os princípios relacionados ao uso discursivo dos provérbios, nos ancoramos no arcabouço teórico-metodológico da Análise do Discurso de orientação semiolingüística de Patrick Charaudeau e, a fim de explicitá-los como signos da subjetividade lingüística, recorremos a estudos enunciativos que incidem, especialmente, sobre as teorias advindas de Bakhtin e Benveniste. Procedemos à investigação dos provérbios recriados, pressupondo que estabeleçam para o sujeito discursivo a instauração de uma imagem de parcialidade – por apelo ao recurso da paródia – imagem essa que fica encoberta, entretanto, por uma máscara de imparcialidade, configurada pela estratégia da paráfrase. A partir de uma análise qualitativa, feita sob uma Lingüística da Enunciação “ampliada” e “restrita”, descrevemos as relações entre os provérbios re-enunciados, os protagonistas do discurso e as situações comunicativas; observamos o funcionamento da re-enunciação proverbial como categoria argumentativa no âmbito da macroestrutura discursiva; e examinamos os procedimentos lingüísticos típicos das recriações dos provérbios com os quais o enunciador reconstrói o objeto discursivo e promove novos efeitos de sentido. Nossa análise evidenciou a instauração de um duplo ethos para o enunciador Villas-Bôas Corrêa: o parcial e o neutro (estratégico) e, ao mesmo tempo, provou que a parcialidade está configurada argumentativamente. Em face ao ethos constituído, atestamos que a eficácia do discurso
estudado ancora-se num programa argumentativo que se estabelece sobre dois eixos complementares: o da razão e o da emoção, em consonância com as imposições de credibilidade e de dramatização do contrato de informação midiático.

Palavras-chave: provérbio, re-enunciação, discurso, argumentação, razão, emoção, ethos.

Robson Lacerda Dutra

Título da tese: Pepetela e a elipse do herói

Orientadora: Profª. Drª. Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco.

Co-orientadora: Profª. Drª. Inocência Luciano dos Santos Mata.

Páginas: 210

Resumo

Este trabalho desenvolve uma reflexão em torno das figurações do herói romanesco em obras de Pepetela, a saber: As Aventuras de Ngunga; Mayombe; A Geração da utopia; O Desejo de Kianda; Jaime Bunda, agente secreto; Jaime Bunda e a morte do americano e Predadores. As relações entre essas figurações são pensadas em seus espelhamentos com as diferentes fases da História de Angola. Estas permitem que se percebam as mudanças ocorridas nos traços
subjacentes de “heróis” que partem da solaridade inerente ao despontar do desejo utópico, passando pelo crepúsculo das utopias, até o riso e a carnavalização que caracterizam suas últimas obras e assinalam a elipse de personagens heróicas. O ponto de chegada são as contradições e impasses vividos por estes “heróis” ao longo da história de Angola e a tentativa de resposta a diversas questões suscitadas pela escrita de Pepetela.

Palavras-chave: romance, herói, vilão, não-herói, utopia, “pós-colonialismo”.

TESES DEFENDIDAS EM 2006

Total de teses defendidas:  21

Ângela Marina Bravin dos Santos

Título da tese: O Sujeito Anafórico de 3ª Pessoa na Fala Culta Carioca: um estudo em tempo real

Orientador(a): Profª. Drª. Maria Eugênia Lamoglia Duarte

Páginas: 149

Resumo

Este é um trabalho variacionista sobre a mudança em tempo real de curta duração, que focaliza o sujeito anafórico de terceira pessoa, com base em amostras da fala culta do Rio de Janeiro, gravadas nos anos 70 e 90, com um intervalo de cerca de 20 anos. Dois tipos de estudos foram realizados: um estudo de painel, que examina o desempenho do indivíduo em dois momentos distintos, e o estudo de tendência, que investiga duas amostras de fala da mesma comunidade colhidos no mesmo intervalo. O quadro teórico associa pressupostos da Teoria Variacionista e da Teoria de Princípios e Parâmetros. A hipótese central é a de que o Português Brasileiro esta em processo de se tornar uma língua negativamente marcada em relação Parâmetro do Sujeito Nulo. Embora as taxas de uso de sujeito nulo sejam sempre inferiores às de sujeito pleno, os resultados para o desempenho do indivíduo revelam instabilidade: alguns diminuem esse uso, outros aumentam e outros ainda se mantêm estáveis. Quanto à comunidade, nota-se uma notável estabilidade no período, atestada não só na aplicação da regra, mas nos fatores selecionados para ambas as sincronias: a estrutura e a posição do antecedente, a animacidade do referente e o verbo que aparece na estrutura. Um antecedente na oração adjacente e com a mesma função, um referente com o traço [-animado] e o verbo “ser” constituem os contextos de resistência do sujeito nulo nas amostras analisadas. A distância entre os pesos relativos obtidos para os fatores em cada grupo, entretanto, diminui
na segunda sincronia, o que sugere que sua força pode estar se reduzindo. Uma comparação com o português europeu e o moçambicano exibe comportamentos opostos e permite concluir que o PB pode não ser (ainda) uma língua de sujeito pleno (ou negativamente marcada em relação ao parâmetro do Sujeito Nulo), mas certamente não é (mais) uma língua de sujeito nulo prototípica.

Angélica de Oliveira Castilho

Título da tese: Clarice Lispector e Nelson Rodrigues: modernidade e tragicidade

Orientador(a): Prof. Dr. Wellington de Almeida Santos

Páginas: 181

Resumo

Aspectos apolíneos e dionisíacos; ausência e presença de Deus; contradições presentes no sentimento amoroso; epifania; existencialismo; família,
burguesia e cristianismo em questionamento; herói e anti-herói; intertextualidade; metanarrativa; paródia; pecado e sentimento de culpa; perfil
das personagens; processo de escrita; relação entre autor, narrador e leitor; relação entre loucura, violência e morte; signo, significante e significado;
tragicidade e modernidade.

Catia Valério Ferreira Barbosa

Título da tese: Representações da realidade em romances brasileiros contemporâneos: a literatura da angústica

Orientador(a): Prof. Dr. Wellington de Almeida Santos

Páginas: 264

Resumo

Esta pesquisa diz respeito ao fazer ficcional de cinco autores contemporâneos no tocante à prática do que é, aqui, denominado literatura da angústia e sua influência nas representações da realidade por eles praticadas. Com base nos pressupostos teóricos de Yves Reuter, expostos em A análise da narrativa (2002) e no trabalho de Linda Hutcheon, intitulado Poética do pós- modernismo (1991), foram estudados os seguintes autores: Godofredo de Oliveira Neto, em O Bruxo do Contestado (1996); Silviano Santiago, em O falso mentiroso (2004); Luiz Ruffato, em Eles eram muitos cavalos (2001); Marçal Aquino, em Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios (2005); e Carlos Sussekind, em O autor mente muito (2001), obra escrita em parceria com Francisco Daudt da Veiga. A partir da análise desses romances, buscou-se o entendimento das estratégias literárias comumente empregadas na pós-modernidade para abordar a angústia do indivíduo pós-moderno e seu sentimento de impotência diante de uma realidade brutal que o oprime. Dentro dessa perspectiva, também constituíram objeto de estudo elementos tais como a metanarrativa, a intertextualidade, a matéria de extração histórica, o que viabilizou o mapeamento mais eficaz das diferentes formas em que a fragmentação do eu aparece traduzida nas obras, bem como possibilitou a melhor compreensão da tênue fronteira entre ficção e realidade explorada por esses escritores.

Claudia Atanazio Valentim

Título da tese: O romance epistolar na literatura portuguesa da segunda metade do século XX

Orientador(a): Prof. Dr. Jorge Fernandes da Silveira

Co-orientador(a): Profª. Drª. Maria de Lourdes Martins de Azevedo Soares

Páginas: 116

Resumo

Desenvolvemos neste trabalho um estudo do romance epistolar em Portugal nas últimas três décadas do século XX e primeiros anos do século XXI,
compreendendo-o como uma forma de ficcionalização autobiográfica, onde se evidencia a questão da representação do sujeito para o(s) seu(s) leitores, seja ele o destinatário da cartas, seja o leitor do texto ficcional. A partir de uma análise diacrônica do gênero epistolar, foram traçados alguns paradigmas de utilização da carta na ficção. Na apreciação dos romances Cartas portuguesas, de Mariana Alcoforado, Cartas e Sandra, de Vergílio Ferreira e Nas tuas mãos, de Inês Pedrosa, seguimos a via crucis da linguagem, onde a escrita da paixão transforma-se na paixão da escrita.

Denise Gomes Leal da Cruz Pacheco

Título da tese: Português para Estrangeiros e os Materiais Didáticos: um olhar discursivo

Orientador(a): Profª. Drª. Maria Aparecida Lino Pauliukonis

Co-orientador(a): Profª. Drª. Regina Lúcia Péret Dell’ Isola

Páginas: 335

Resumo

Português para estrangeiros (PLE) sob um olhar discursivo. Tomando como base de análise a materialidade lingüística (textos monomodais e modais) dos
materiais didáticos (MDs) de PLE dirigidos a adolescentes, publicados no Brasil, com base em constructos teóricos de área interdisciplinar entre a Análise do Discurso (Semiolingüística Discursiva – CHARAUDEAU: 1983) e a Lingüística Aplicada, a presente tese discute os contratos de comunicação firmados nesses MDs e os efeitos da implementação da abordagem comunicativa de ensino (WIDDOWSON: 1978); reflete sobre os conceitos de autenticidade e comunicação, no ensino de línguas estrangeiras, enfocando o letramento em PLE- ensino da leitura, da metalíngua e da escrita sob a ótica discursiva dos gêneros textuais. É apresentada ainda uma reflexão sobre o jogo discursivo no ensino de PLE, com foco no funcionamento das instâncias discursivas e nos processos de construção identitária do MD, do professor e do aprendiz de PLE, segundo os mecanismos de fragmentação e homogeneização que a materialidade lingüística dos MDs revela. Finalmente são apontadas perspectivas para o ensino de PLE no século XXI diante das novas formas de multiletramento e sugeridos alguns encaminhamentos de (re)institucionalização do ensino de PLE em nível nacional e internacional.

Eliane Ferreira de Cerqueira Lima

Título da tese: O encontro com o arquétipo materno: imaginário e simbologia em LYA LUFT

Orientador(a): Professora Doutora Elódia Xavier

Páginas: 217

Resumo

Estudo do fio condutor narrativo em sete romances de Lya Luft: o sofrimento pela irrealização do arquétipo materno em face de uma ausência real ou afetiva da mãe pessoal. Levantamento dos recursos artístico-simbólicos representativos dessa opressora lacuna psicológica e da insólita atmosfera de inconsciente.

Emerson da Cruz Inacio

Título da tese: A Herança Invisível: ecos da “literatura viva” na poesia de Al Berto

Orientador(a): Prof. Dr. Jorge Fernandes da Silveira

Páginas: 183

Resumo

Revisão da crítica de José Régio, veiculada na revista PRESENÇA, a partir de tópicos constantes na contemporaneidade. Para tanto, recorreu-se ao pensamento de Michel Foucault, capaz de articular, através da genealogia, elementos e conceitos muitas vezes dispersos e distantes no tempo. Dessa maneira, a crítica de José Régio revela-se como uma contribuição silenciosa para a compreensão de elementos da poesia portuguesa do fim do século XX, particularmente
da obra de Al Berto.

Filomena de Oliveira Azevedo Varejão

Título da tese: Variação em Estruturas de Concordância Verbal e em Estratégias de Relativização no Português Europeu Popular

Orientador(a): Profª. Drª. Maria Eugênia Lamoglia Duarte

Co-orientador(a): Profª. Drª. Dinah Isensee Callou

Páginas: 193

Resumo

Análise dos processos de concordância verbal e das construções relativas não-padrão no português europeu popular, com base nos dados da Amostra Cordial-sin, segundo o modelo variacionista. Proposta de comparação com resultados de pesquisas sobre os dois fenômenos no português do Brasil.

Janaina Fernandes Rebello

Título da tese: A Multiplicidade de Enfoques Sobre o Amor na Narrativa Brasileira

Orientador: Prof. Dr. José Maurício Gomes de Almeida

Páginas: 236

Resumo

O amor como representante das diversas posturas na literatura brasileira. O erotismo como representação do amor em alguns momentos da prosa nacional. A dicotomia carne X espírito e suas influências sobre o enfoque do amor na prosa romântica. O Naturalismo e a limitação ao amor sensual. Amos e desgaste em machado de Assis: ceticismo. Egoísmo e solidão: a impossibilidade da realização amorosa em Graciliano Ramos. O amor na literatura amadiana: liberdade e alegria. Guimarães Rosa e os estágios do amor: a busca da completude cósmica.

Josane Moreira de Oliveira

Título da tese: O Futuro da Língua Portuguesa Ontem e Hoje: variação e mudança

Orientador(a): Profª. Drª. Dinah Maria Isensee Callou

Co-orientador(a): Profª. Drª. Maria da Conceição de Paiva

Páginas: 254

Resumo

Análise da variação das formas de expressão do futuro verbal em português. Estudo em tempo real de longa e de curta duração (tendência), de acordo com a Teoria da Variação, de dados do século XIII ao XX. Investigação do processo de gramaticalização da forma perifrástica ir + infinitivo.

Lenivaldo Gomes de Almeida

Título da tese: Um Autor à Procura de Uma Alma. A crise da representação e a dimensão trágica em Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá

Orientador(a): Prof. Dr. Ronaldes de Melo e Souza

Páginas: 138

Luiz Claudio Valente Walker de Medeiros

Título da tese: Em busca de uma análise lexicográfica: estudos de textos de contos machadianos

Orientador(a): Prof. Dr. Edwaldo Cafezeiro

Páginas: 1032

Resumo

O objetivo deste trabalho é apresentar o levantamento lexicográfico de 12 dos 223 contos de Machado de Assis, o qual serve de base para uma análise de seu
vocabulário em nível lexicológico. Desses 12 contos, seis são os primeiros [Três tesouros (1858), O País das Quimeras (1862), Luís Soares, Frei Simão, Virginius e O Anjo das Donzelas (1863)] e seis estão entre os últimos escritos [Um Incêndio (1896), Pai contra Mãe, Marcha Fúnebre, Suje-se Gordo, Umas Férias e O Escrivão Coimbra, todos de 1906], e o vocabulário consta, nos seis primeiros contos, com 12.555 ocorrências vocabulares, distribuídos em 3.072 lexemas, e nos seis últimos com 7.600 ocorrências vocabulares em 2.148 lexemas. Tal levantamento serve de base para um estudo da formação de identidades dos personagens, uma vez que um autor, ao efetuar a seleção lexical, o faz a fim de construir identidades; essa construção em um autor como Machado de Assis é muito importante, pois seu texto se caracteriza por ser uma produção literária brasileira, datada da virada do século XIX para o século XX, época em que se observa no português um distanciamento entre a língua portuguesa em território brasileiro e a português.

Palavras-chave: lexicografia, lexicologia, Machado de Assis, contos.

Marcelo Andrade Leite

 Título da tese: Resultatividade – Um estudo das construções resultativas em Português 

Orientador(a): Profª. Drª. Maria Lúcia Leitão de Almeida

Páginas: 153

Resumo

Com base em princípios da Lingüística Cognitiva, tem-se por objetivo nesta tese definir o conceito de construção de forma clara, identificar os elementos
componentes das Construções Resultativas e descrever como elas se apresentam no Português, uma vez que os trabalhos na área são baseados na Língua Inglesa e, conforme afirmam os autores da Gramática de Construção (FILLMORE, GOLDBERG), há idiossincrasias a se manter entre as línguas. Para isso, adotou-se uma metodologia que consiste na montagem de um corpus com Construções Resultativas extraídas de internet, textos de jornais e revistas, exemplos coletados na oralidade, que servem para entender como um falante nativo de Português estrutura essas construções na língua. Promoveu-se, então, uma revisão bibliográfica de autores que abordassem a questão, direta ou indiretamente, da resultatividade. A partir daí, munidos de instrumentação teórica adequada, prosseguimos aos recortes e análises do corpus coletado. Constatou-se então que seria necessário escolher um aspecto específico e uma manifestação da resultatividade em Português, pois o termo em si abarca um grande grupo de fenômenos e deixa margem para problemas lingüísticos que se mesclam com questões filosóficas. Optou-se, dessa forma, por Construções Resultativas simples que apresentam expresso o SR de forma interna ou externa. Por fim, com base em uma análise quantitativa e qualitativa, constatou-se que, ainda que em Português tenhamos casos de SR (Sintagmas Resultativos) externos ao verbo, o falante nativo prefere representar estas construções de forma interna ao verbo. Comprovou-se que essa tendência também ocorre em construções que não focam mudança de resultado, mas a trajetória aplicada um sintagma resultativo.

Maurício Lemos Izolan

Título da tese: A letra e os vermes ´- O jogo irônico de ficção e realidade em Machado de Assis

Orientador(a): Prof. Dr. Ronaldes de Melo e Souza

Páginas: 205

Resumo

A letra e os vermes é a cifra hermenêutica da operação textual de complementariedade entre a escrita e o silêncio. A obra machadiana dramatiza o
jogo entre o dito e não-dito, o visto e o invisível. Para fazê-lo falar, é necessário o entendimento não só da ironia no plano literário e retórico, mas principalmente no plano poético-filosófico do paradoxo. A operação que vai de Friedrich Schlegel a Machado de Assis é a formatividade irônica do jogo de contrários e da parábase como reflexão constante da criação sobre a criação e da criação sobre o mundo. Tal processo é estranho ao horizonte crítico tradicional que entende a ironia machadiana nos extremos do estrambótico ou do pessimismo, como contraditoriedades mutuamente excludentes e não complementares. O jogo irônico é a síntese analítica schlegeliana entre vida e morte em Ressurreição, entre o dito e não-dito em Iaiá Garcia, entre a letra e os vermes que a corroem em Dom Casmurro e entre ficção e realidade em Memorial de Aires.

Mauro José Rocha do Nascimento

 Título da tese: Repensando as vogais temáticas nominais a partir da gramática das construções

Orientadora: Profª. Drª. Maria Lúcia Leitão de Almeida

Co-orientador: Prof. Dr. Carlos Alexandre Victório Gonçalves

Páginas: 171

Resumo

Este trabalho parte dos pressupostos teóricos da Lingüística Cognitiva, mais especificamente do modelo da Gramática das Construções desenvolvido por
Goldberg (1995), adaptando-o para construções de base morfológica. A primeira proposta apresentada é de que as classes gramaticais podem ser consideradas em si construções gramaticais. Centramos foco nos substantivos e nos verbos, mais particularmente nos processos de formação envolvendo essas duas classes. Defendemos aqui que o processo no qual um substantivo é formado a partir de um verbo sem que se usem afixos, chamado tradicionalmente de “derivação regressiva”, é na verdade um caso do que propomos chamar “reenquadre morfológico”. O mesmo processo pode acontecer no sentido contrário, em que o verbo é formado a partir do substantivo, envolvendo apenas os elementos que caracterizam essas categorias. Com base nessa proposta, sustentamos que nos substantivos acontece uma variação desse mesmo processo, só que envolvendo subclasses de substantivos. Essas subclasses são também conjuntos de construções, cuja forma está relacionada às vogais temáticas e cujo significado está relacionado ao gênero. Quanto à forma, comprovamos que os falantes relacionam automaticamente as construções X-o ao gênero masculino e as construções X-a ao gênero feminino. Quanto ao significado, com base em Lakoff (1980), que afirma que conceptualizamos o mundo a partir de noções básicas de nossa experiência corporal, sustentamos que os falantes conceptualizam a noção gramatical de gênero em termos de diferenças de sexo; tanto que, nas línguas indo-européias de modo geral, existe essa relação entre gênero e sexo. No conjunto das construções envolvendo gênero, há um conjunto básico, em que gênero e sexo estão diretamente ligados (menino / menina, gato / gata). Nesse grupo de construções, há um reenquadre das construções masculinas com tema em –o, em –e ou em –Ø
(atemáticas) para as construções femininas com tema em –a, ou seja, o feminino é formado a partir do masculino. Isso se dá por ser o masculino considerado o gênero prototípico, enquanto o feminino se afasta desse protótipo. A prototipicidade do masculino é um dado cultural, que se reflete lingüisticamente. Como conseqüência, o masculino é na língua o gênero básico, mais geral, enquanto o feminino é sempre usado em casos específicos. Dos três tipos de reenquadre envolvendo seres animados, o mais produtivo é o que envolve as vogais temáticas -o / -a, como menino / menina. Desse par mais produtivo, decorre um segundo grupo de construções, envolvendo seres não-animados. No conjunto decorrente, o gênero não se relaciona a sexo (são as construções do tipo jarro / jarra). Essas construções herdam do grupo básico o fato de o masculino ser o protótipo e o feminino ser menos prototípico. Se no primeiro grupo a relação de prototipicidade se manifesta em relação a um elemento mais concreto, que é o sexo dos referentes, no segundo conjunto ocorre de forma menos objetiva: as construções de gênero masculino vão indicar elementos mais gerais e mais denotativos, enquanto as femininas vão indicar elementos mais específicos e mais conotativos (metafóricos ou metonímicos). Por fim, a partir da hipótese, proposta por Bybee (1985), de continuum flexão – derivação, analisamos as construções de vogal temática com base em doze critérios de diferenciação elencados por Gonçalves (2005). Concluiu-se que a vogal temática nominal é um elemento envolvido na formação de vocábulos, mas não é prototipicamente um elemento derivacional nem flexional, ficando aproximadamente
no meio do continuum flexão / derivação.

Monica Alvarez Gomes das Neves

Título da tese: Aspectos cognitivos da constituição da ironia

Orientadora: Profª. Drª. Maria Lúcia Leitão de Almeida

Páginas: 195

Resumo

O presente trabalho apresenta um estudo do recurso lingüístico da ironia em textos de opinião em que, além de terem sido levantados os diversos formatos para o conceito de ironia, foram pesquisados os trabalhos sobre o fenômeno em questão, disponíveis na literatura específica. Como suporte teórico, estudaram-se conceitos básicos da Lingüística Cognitiva, além daqueles específicos para a análise da ironia no sintagma nominal, principalmente a
aplicação da rotina cognitiva de mesclagem conceptual: os mecanismos de compressão e descompressão das mesclas, a desanalogia criada entre um dos inputs e o espaço mescla (que possibilita a geração das inferências, recursos para o reconhecimento da ironia). O estudo foi coroado com o apontamento de algumas generalizações — comprovações das hipóteses de que ironia é resultado de mescla e promove reenquadre e estabelecimento de uma tipologia para o
enunciado irônico — e sugestões para outras pesquisas, como o estudo da ironia em outras estruturações (fora do sintagma nominal), inclusive a discursiva, ironia como construção gramatical, ironia como recurso de expressão da modalidade.

Olga de Jesus Santos

Título da tese: A consagração literária: o exemplo de Machado de Assis

Orientadora: Prof. Dr. Antonio Carlos Secchin

Páginas: 258

Resumo

A renovação estética no século XIX: a formação de novos padrões literários, a atividade jornalística e a literatura, o desenvolvimento da crítica. Surgimento de
Machado de Assis com uma escrita inovadora, sem adesão confessa a preceitos literários. Visão desdobrável e ironia na representação da realidade. A consagração do autor e as suas contradições, notadamente na posteridade. O auge.

Sandra Maria Oliveira Marques

Título da tese: As vogais médias pretõnicas em situação de contato dialetal

Orientadora: Profª. Drª. Dinah Maria Isensse Callou

Co-orientador: Prof. Dr. Dermeval da Hora Oliveira (UFPB)

Páginas: 159

Resumo

Análise quantitativa da variação lingüística resultante do contato entre paraibanos e cariocas no Rio de Janeiro e de brasileiros e portugueses na cidade de
Lisboa, com base na observação das vogais médias pretônicas, à luz da Sociolingüística Quantitativa e dos estudos sobre Dialetos em Contato.

Sandra Maria dos Santos Ramos

 Título da tese: O Ethos discursivo de Lula: análise de construções metafóricas

Orientadora: Profª. Drª. Maria Aparecida Lino Pauliukonis

Páginas: 13

Resumo

A base de conhecimentos ou domínios conceituais de cada falante torna-se fundamental no momento em que se produz e/ou interpreta significados. Nesse sentido a metáfora pode elaborar um ethos apropriado para o falante, construindo ou dando suporte à construção de um perfil positivo de alguém em que se pode confiar. O campo político tem sido fértil de análises na área da retórica e da argumentação. Dessa forma, os pronunciamentos de Luis Inácio Lula da Silva foram escolhidos com o intuito de verificar a construção de um ethos. Seu discurso servirá de parâmetro para analisar em que medida o uso de metáforas permite observar sua atuação como instrumento de persuasão e também contribui, em um contexto mais amplo, para a própria formação de uma imagem pública. A presente pesquisa aborda as relações entre discurso e imagem, analisando como se dá a relação entre a construção do ethos e o auditório que o constrói. Neste estudo são apresentadas diversas concepções teóricas sobre a metáfora, com ênfase na visão funcional sócio-comunicacional. Leva-se em conta que a metáfora não pode ser dissociada do mundo da cultura. Procura-se mostrar que elas não possuem papel meramente subalterno: elas refletem o ethos do enunciador e, ao mesmo tempo, interagem com ele, ajudando a moldá-lo e a transformá-lo.

Palavras-chave: metáfora, discurso, retórica e argumentação, ethos.

Sérgio Leitão Vasco

Título da tese: Construções de tópico na fala popular

Orientadora: Profª. Drª. Maria Eugênia Lamoglia Duarte

Páginas: 216

Resumo

Análise das construções de tópico no português brasileiro popular. Comparação com as variedades cultas de Brasil e Portugal à luz de mudanças no sistema pronominal do português brasileiro. O tópico na tradição gramatical e na teoria lingüística. Proposta de reavaliação tipológica. O português como língua de
tópico face à tradicional concepção de língua SVO.

Simone Mattos Guimarães Orlando

 Título da tese: Perspectivas de estudo sobre o discurso para a graduação em comunicação social

Orientadora: Profª. Drª. Maria Aparecida Pauliukonis

Páginas: 209

Resumo

Este tese se propôs a desenvolver um estudo sobre o discurso, associado às possibilidades de tratamento desta temática na graduação em Comunicação Social. O trabalho ressaltou alguns condicionantes para que tal tema fosse tratado de forma adequada em meio a esta formação universitária: (1) apropriação do conceito de discurso levando em conta sua inserção no campo social; 2) passeio pelo quadro sócio-histórico que possibilitou o surgimento e edificação do campo da Análise do Discurso; 3) entrelace entre 4 macro-teorias do discurso (AD Francesa, Semiolingüística Discursiva, Análise da Conversação, Análise Crítica do Discurso) e as principais doutrinas científicas estudadas no curso de Comunicação Social. Ao final do trabalho, foi elaborado um quadro didático, no intuito de organizar visualmente as proposições anteriormente citadas.

TESES DEFENDIDAS EM 2005

Total de teses defendidas:  03

Gilson Costa Freire

Título da tese: A Realização do Acusativo e do Dativo Anafóricos de Terceira Pessoa na Escrita Brasileira e Lusitana

Orientador(a): Profª. Drª. Maria Eugênia Lamoglia Duarte

Páginas: 215

Resumo

Clíticos acusativo e dativo de terceira pessoa no português escrito brasileiro e europeu. Estratégias para a sua substituição nas duas funções. Distribuição das variantes num contínuo oralidade-letramento. Considerações sobre o papel da escola na recuperação dos clíticos.

Paulo Cesar Costa da Rosa

Título da tese: Aspectos da progressão e da coesão textual

Orientador(a): Prof. Dr. Helênio Fonseca de Oliveira

Páginas: 107

Resumo

Estudo do papel da coesão e da progressão textual na construção do texto como unidade verbal de comunicação. Investigação do comportamento da trama textual, resultante da coocorrência da trama verbal, da trama lexical, da trama referencial e da trama conjuntiva.

Rita de Cássia Miranda Elias

Título da tese: A Tribo das Borboletas Azuis. Ambientação sertaneja e estética em Fagundes Varela.

Orientador(a): Prof. Dr. Antonio Carlos Secchin

Páginas: 156

Resumo

As atitudes da modernidade na obra de José de Alencar. O sistema intelectual no século XIX e o lugar do autor no mundo da imprensa. A formação do leitor e os modos de ler nos romances urbanos. O ideário liberal nos romances indianistas e a nação inventada à luz do romantismo utópico. As práticas sociais e políticas arcaizantes como obstáculos à criação de uma nova ordem fundada nos princípios da igualdade e da liberdade.