TESES

Quadriênio 2012 - 2009

Total de teses defendidas: 37

TESES DEFENDIDAS EM 2011

Total de teses defendidas:  7

Agnes Danielle Rissardo

Título da tese: Nelson Rodrigues e a Hipérbole do Banal

Orientador(a): Prof. Dr. Wellington de Almeida Santos

Co-orientador(a): Profª. Drª. Jacqueline Penjon

Páginas: 195

Resumo

Legítimo herdeiro da tradição de excessos na literatura, Nelson Rodrigues (1912-1980) foi um autor que, segundo ele mesmo, nunca teve medo de se repetir. Por onde quer que vagasse a sua imaginação, das peças teatrais aos romances-folhetins, passando pelas crônicas e contos, o grande mote de suas obras ficcionais era a dissolução das relações familiares e o caráter transgressor dos relacionamentos afetivos. Temas como paixões proibidas, incesto, crimes passionais, adultérios e traições, recorrentes em sua narrativa, surgem como singulares, na medida em que é desvendada, na sua constituição, a tensão
entre aspectos eruditos e populares. Resulta daí uma Poética do Excesso, influenciada, de um lado, pelo trágico e, de outro, pela técnica folhetinesca e melodramática, assim como pelo jornalismo de caráter subjetivo, calcado no fait divers. O desafio é demonstrar que esses elementos não apenas serviram de fonte de pesquisa e inspiração para o autor como, ao contrário do que possa parecer, não desqualificaram sua obra, mas enriqueceram-na. A presente tese aborda as obras em prosa do autor nas quais a tensão entre o erudito e o popular na expressão das formas do excesso se torna mais nítida: o romance O casamento (1966), contos escolhidos de A vida como ela é… (1951), sem deixar de fora os romances-folhetins Meu destino é pecar (1944, como Suzana Flag) e A mentira (1953), além de O baú de Nelson Rodrigues: os primeiros anos de crítica e reportagem (1928-1935), obra significativa no estudo da intertextualidade entre jornal e ficção na narrativa rodriguiana.

Palavras-chave: literatura brasileira, trágico, técnica folhetinesca, fait divers, excesso.

Humberto Soares da Silva

Título da tese: Evidências da Mudança Paramétrica em Dados da Língua-e: o sujeito pronominal no português e no espanhol

Orientador(a): Profª. Drª. Maria Eugênia Lamoglia Duarte

Páginas: 143

Resumo

Seguindo pressupostos gerativistas e variacionistas, comparo análises da representação do sujeito em sete línguas românicas: português europeu e brasileiro (PB); espanhol europeu (EE), argentino (EA), porto-riquenho (EP) e dominicano (ED); e italiano. As análises do português e do italiano vêm, respectivamente, das pesquisas de Duarte (1995) e Marins (2009); as do EE e do EA estão em Soares da Silva (2006); a do ED se baseia em dados de diversos estudos; e a do EP foi feita para esta Tese, usando a amostra de Samper Padilla, Hernández Cabrera & Troya Déniz (1995). A comparação permite estabelecer um conceito de riqueza flexional que explique o comportamento dessas línguas em relação ao uso dos sujeitos nulos e caracterizar melhor a progressiva diminuição nas frequências de sujeitos nulos no PB. Diversas propostas de relação entre riqueza do paradigma verbal e sujeito nulo foram feitas (CHOMSKY, 1981; JAEGGLI & SAFIR, 1989; ROBERTS, 1993; DUARTE, 1995), mas nenhuma é compatível com o que se observa no PB. Proponho separar as categorias de
número e pessoa, considerando, com base em Toribio (1994), que dois parâmetros atuam no fenômeno: o Parâmetro do Sujeito Nulo (PSN) – relacionado ao licenciamento – e o Parâmetro da Identificação (PI). Concluo que o licenciamento se relaciona à riqueza de oposições para a categoria ―número‖ e a identificação, à riqueza da categoria ―pessoal, e que duas mudanças paramétricas estão em progresso no PB: a primeira, no PSN, detonada por volta de 1930 pela inclusão de você(s) no paradigma pronominal; a segunda, no PI, desencadeada por volta de 1970 pela gramaticalização de a gente.

Palavras-chave: sujeito nulo, riqueza flexional, mudança paramétrica, português, espanhol.

Janaina de Souza Silva

Título da tese: David Mourão-Ferreira: jogos de amor, jogos de escrita

Orientador(a): Profª. Drª. Teresa Cerdeira da Silva

Páginas: 247

Resumo

Este trabalho procura estabelecer relações entre duas obras em prosa do escritor David Mourão-Ferreira: Os amantes e Um amor feliz. Levando em consideração que esses livros se articulam ainda com outras obras do autor, acredita-se que este conjunto forma um universo literário muito particular em que os temas do amor e da reflexão sobre a escrita se revelam como estruturantes do fazer literário.

Palavras-chave: Mourão-Ferreira, obras em prosa, amor, escrita, fazer literário.

Josélia Rocha dos Santos

Título da tese: Variações sobre o mesmo tema: a relação mãe e filha no imaginário das escritoras Júlia Lopes de Almeida, Rachel de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Lya Luft e Livia Garcia-Roza

Orientador(a): Profª. Drª. Elódia Xavier

Páginas: 191

Resumo

Este trabalho focaliza o conflito na relação entre mãe e filha abordado na literatura brasileira de autoria feminina. O tema é recorrente e o objetivo da pesquisa foi analisar como as escritoras o representam na estrutura familiar, tão presente nessa produção ficcional, e (des)constroem essa relação que, sob a perspectiva filosófica e histórica, é harmoniosa. Para tanto, foram elencados seis romances de cinco autoras que abrangem os séculos XIX, XX e
XXI. Em A viúva Simões (1897), de Júlia Lopes de Almeida (1862 -1934), há a disputa de Ernestina e Sara pelo amor do mesmo homem. Verão no aquário (1963), de Lygia Fagundes Telles (1921), apresenta-nos Patrícia que se dedica mais ao trabalho como escritora do que à filha. Dôra, Doralina (1975), de Rachel de Queiroz (1910 – 2003), mostra a inimizade de Senhora com Maria das Dores, intensificada pelo fato de a mãe ser amante do marido da filha. Na obra A sentinela (1994), de Lya Luft (1938), a filha, aos cinquenta anos, ainda busca compreender o porquê de ser alvo do desprezo materno. O tema é tão presente na produção de Livia Garcia-Roza que analisei duas obras da escritora: no romance Meus queridos estranhos (1997), a mãe é a narradora e se ressente de a filha não seguir suas orientações; em Solo feminino: amor e desacerto (2002), Gilda, a filha, é a narradora e reclama da intensa vigilância materna. Exatamente devido à distância temporal, foi interessante examinar a convergência temática e estrutural das obras.

Palavras-chave: literatura; brasileira; relação; conflito; mãe; filha.

Juliana Barbosa de Segadas Vianna

Título da tese: Semelhanças e diferenças na implementação de a gente em variedades do Português

Orientador(a): Profª. Drª. Célia Regina dos Santos Lopes

Páginas: 258

Resumo

O objetivo desse trabalho é descrever e analisar a variação entre nós e a gente na língua oral do português europeu, em confronto com os resultados aferidos na variedade brasileira, com base na produção científica dos últimos vinte e cinco anos. Busca-se comparar a implementação de a gente nas duas variedades da língua portuguesa, bem como o grau de pronominalização da forma em cada uma delas. A análise focaliza fundamentalmente a variedade europeia do português e se encontra apoiada na Teoria da Variação e Mudança Linguística, que leva em conta a influência de fatores linguísticos e sociais no condicionamento das formas em variação. Os dados obtidos foram submetidos ao tratamento do estatístico efetuado pelo Programa computacional de regras variáveis – o GOLDVARB 2001. Com relação à discussão acerca do grau de pronominalização da forma, parte-se da análise do comportamento da forma em estruturas predicativas, observando padrões de concordância mais produtivos e frequentes, com relação aos traços de gênero, número e pessoa, nas duas variedades da língua. Entre os principais resultados obtidos, os seguintes contextos linguísticos e extralinguísticos mostraram-se favorecedores para o uso de a gente no PE: (i) marca morfêmica do verbo que o acompanha; (ii) sujeito preenchido e nulo; (iii) paralelismo formal; (iii) localização no território português; (iv) escolaridade; (v) gênero; e (vi) faixa etária. A análise dos resultados demonstra semelhanças para o fenômeno variável, principalmente quando se têm em vista os fatores estruturais. Com relação aos fatores sociais, a variedade européia demonstra maior conservadorismo, havendo diminuição no uso da forma inovadora com o aumento da escolarização. Diferentemente do PB, a análise do PE não indica mudança de comportamento em curso.

Michelle Gomes Alonso Dominguez

Título da tese: Estratégias Discursivas no Webjornalismo: indícios de um “novo” contrato?

Orientador(a): Profa. Dra. Maria Aparecida Lino Pauliukonis.

Páginas: 161

Resumo

O advento e a popularização da internet geraram um novo ambiente de produção/recepção da informação, impactando, consequentemente, o discurso
jornalístico. Interessada na natureza e extensão dessas alterações, a pesquisa analisa as especificidades linguístico-discursivas dos webjornais Folha.com, O Globo.com e JB online – comparando-os com as publicações impressas da mesma empresa – para, através desse reconhecimento, propor a discussão sobre a manutenção (ou não) dos parâmetros e relações contratuais do discurso de informação midiática nessas “novas” produções jornalísticas. Para tanto, servem de fundamento teórico as proposições gerais da Análise Semiolinguística do Discurso, em especial, as referentes ao contrato comunicativo e ao discurso midiático. Além delas, são consideradas ainda, em função da natureza do corpus, as reflexões de alguns teóricos da comunicação sobre as potencialidades da produção webjornalística.

Palavras-chave: discurso, informação, internet e mídia.

Tatiana Pequeno da Silva

Título da tese: “Um canto humano de animal em consonância com a terra prometida”: aspectos políticos da obra de Maria Gabriela Llansol

Orientador(a): Prof. Dr. Jorge Fernandes da Silveira

Páginas: 185

Resumo

De forma geral, esta tese pretende investigar a obra da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol a partir de uma perspectiva política. Para tanto, desejo levantar e problematizar algumas questões relativas ao imbricamento e afastamento das relações entre literatura e política na obra da referida autora, aproveitando para compreender em que medida as ideias de Comunidade, Ética e Metamorfose configuram e delineiam os espaços que darão corpo àquilo que nomeei por neogeografias, isto é, as novas escritas do Mundo. Neste sentido, farei uso de duas referências teóricas incontornáveis: Hannah Arendt e Giorgio Agamben, cujas reflexões versarão mais incisivamente sobre tentativas de compreensão do Mundo no contexto da/ pós Segunda Guerra Mundial. Com efeito, parece ser necessário procurar, sobretudo nas duas primeiras trilogias de Llansol (“Geografia de Rebeldes” e “O Litoral do Mundo”), o pólen essencial ou as matrizes deste projeto de fulgor como alternativa à rarefação e à entropia, cujas presenças aparentam ocupar os lugares mais evidentes e eloquentes da “Literatura”.

Palavras-chave: Literatura Portuguesa Contemporânea; Maria Gabriela Llansol; Neogeografias;

TESES DEFENDIDAS EM 2010

Total de teses defendidas:  15

Aliderson Cardoso de Jesus

Título da tese: A Poesia de Luis Miguel Nava enquanto secreta religião

Orientador(a): Prof. Dr. Jorge Fernandes da Silveira

Páginas: 136

Resumo

Luis Miguel Nava (1957-1995) brutalmente assassinado em seu em seu apartamento em Bruxelas, é dono de uma obra poética de chama inextinguível. Seu lirismo, cuja estréia dá-se em Películas, caracteriza-se por um forte erotismo aliado a imagens violentas que nasce sob signo da pintura de Francis Bacon, assim como da pintura de um modo geral e do outras arte, como o cinema. O corpo nesta poesia passa a projetar e receber as projeçõs dessas referencias. Ocorre que esse mesmo corpo a partir da pele permite atar mundos cosmos universos. Isto revela uma poesia que está disposta reunir elementos distintos sob a mesma égide dotando-os duma natureza comum. A partir dessas observações o que se quer discutir ao longo do percurso que aqui se inicia é como apropriação dos ícones símbolos e rituais religiosos e a recorrente figura da “árvore e seus derivados “raízes” , “folhas” etc criam uma possibilidade de reconhecer na poesia navia nos movimentos de se absorver e eliminar a religião em pequenas películas ou doses como se fossem secretadas e engolidas.

Erica Sousa de Almeida

Título da tese: Variação de uso do subjuntivo em estruturas subordinadas: do século XIII ao XX

Orientador(a): Profª. Drª. Dinah Maria Isensee Callou

Páginas: 317

Resumo

Analisa-se a distribuição das ocorrências de modo subjuntivo e indicativo em construções de dois tipos, do ponto de vista da relação que se estabelece entre a cláusula subordinada e a principal: subordinadas substantivas — encaixadas — e adverbiais concessivas. Discute-se o fato de que o uso dos modos verbais está diretamente relacionado ao grau de certeza⁄incerteza que se queira imprimir a um dado enunciado: com o indicativo, expressam-se fatos tidos verossímeis e reais; com o subjuntivo, fatos possíveis, duvidosos, incertos, irreais ou hipotéticos. O subjuntivo constitui o modo marcado, em oposição ao indicativo, o modo não-marcado, já que ocorre em contextos em que não há restrição específica a determinado modo verbal. Parte-se dos pressupostos da teoria variacionista laboviana (Labov, 1972; 1994) — uma análise em tempo real de longa e de curta duração — e de algumas concepções do funcionalismo lingüístico (Givón, 1995). No que diz respeito às orações completivas, destaca-se que o uso do subjuntivo está relacionado ao componente semântico-lexical do verbo da oração matriz, fato comprovado desde o português arcaico e clássico. Há verbos que selecionam apenas o subjuntivo, verbos que selecionam apenas o indicativo, e verbos que apresentam uso variável do subjuntivo, a depender de restrições que operam na proposição, tanto na escrita quanto na fala culta e não-culta. A análise revelou ainda que o efeito de negação e as relações temporais entre a oração matriz e a oração encaixada podem também atuar na seleção do modo verbal.
No que diz respeito às orações adverbiais concessivas, observa-se uma cristalização de uso do subjuntivo. Os resultados da análise diacrônica evidenciam que o uso do modo verbal varia em função de fatores de natureza sintático-semânticos e extra-linguísticos. Na fala culta, o tipo de sujeito da oração concessiva pode interferir na escolha de determinado modo verbal e, na fala não-culta, com determinados conectores, a freqüência de uso do subjuntivo é menor. A análise torna ainda evidente que o uso do subjuntivo se especifica, na medida em que há (i) completa gramaticalização de certos conectores e (ii) restrição imposta pela própria norma gramatical. Pode-se concluir que, nas duas estruturas em foco, independente de a relação entre as cláusulas ser distinta, é o elemento à esquerda do verbo que comanda a seleção do modo verbal: nas orações encaixadas, esse elemento à esquerda é, fundamentalmente, o verbo da oração matriz; nas orações concessivas, o elemento à esquerda é aquele que introduz a cláusula subordinada, isto é, o conector.

Evanilda Marins Almeida

Título da tese: Uso e norma: variação da concordância verbal em redações escolares

Orientador(a): Prof. Dr. Silvia Figueiredo Brandão

Páginas: 247

Resumo

Nesta pesquisa, focaliza-se a concordância verbal de terceira pessoa de plural na modalidade escrita das variedades brasileira e européia do português, com base em redações de alunos do nono ano do Ensino Fundamental e terceira série do Ensino Médio, no Brasil, e nono e décimo-segundo anos, em Portugal. A análise, realizada segundo os princípios da Sociolinguística Laboviana, investiga aspectos sociais e estruturais que condicionam o cancelamento da marca de número. Os resultados mostraram discretos índices para a não-concordância entre verbo e sujeito (3.9% para o português brasileiro e 1.9% para o português europeu). Apesar dos baixos índices, no Brasil, as escolas regulares apresentaram maior nível de variação na concordância, enquanto, no PE, em tais tipos de escolas, gerenciadas pelo sistema público de ensino, os índices de concordância foram praticamente categóricos. Além do cotejo entre as duas variedades do português, realizou-se um estudo de caso em que se comparou o desempenho, em relação à concordância, dos alunos do turno da manhã ao dos alunos do turno da noite de uma mesma escola classificada como regular. Os resultados apresentam indícios que corroboram a hipótese inicial de que, apesar de a escola repassar a regra de concordância, de acordo com o padrão considerado ideal e, de os alunos, de modo geral, assimilarem tal regra, ainda há uma discrepância de 2.5% entre o comportamento dos alunos das escolas públicas e particulares, assim como entre os dos turnos da manhã e da noite, 3.1%, no Português do Brasil.

Palavras-chave: variação, concordância verbal, sociolinguística

Fábio Frohwhein de Salles Moniz

Título da tese: Obras poéticas de Laurindo Rabello: edição crítica

Orientador(a): Professor Doutor Wellington de Almeida Santos

Páginas: 341

Resumo

O poeta fluminense Laurindo José da Silva Rabello (1826-1864) publicou em vida somente um livro, Trovas (1853), além de poemas dispersos em vários periódicos. No estado atual da tradição impressa, não há sequer uma edição que exponha a totalidade de poemas atribuídos a Laurindo Rabello. Além disso, não se procedeu ainda à edição científica de sua obra poética, que carece não só do estabelecimento do texto com base em procedimentos científicos, bem como de 1)dados contextuais auxiliares ao esclarecimento de poemas que remetam a questões ligadas ao âmbito histórico-cultural ou biográfico; 2) discernimento de poemas de autenticidade comprovada dos de autenticidade duvidosa; 3) continuidade da recuperação de textos perdidos. Esta Tese tem por objetivo geral, portanto, editar cientificamente os poemas atribuídos a Laurindo Rabello. Para tal, foram inventariados e cotejados testemunhos, estabelecendo e apresentando-se o texto de seus poemas com base na metodologia da crítica textual. O corpus da pesquisa constitui-se de compilações poéticas, antologias, periódicos diversos e cancioneiros de modinhas e lundus dos séculos XIX e XX, partituras, histórias da música popular brasileira, através dos quais os poemas atribuídos a Laurindo Rabello foram transmitidos até a atualidade. A orientação teórica da pesquisa seguiu os manuais de bibliologia, textologia e filologia de Antônio Houaiss (1969), Roger Laufer (1972), Segismundo Spina (1977), Barbara Spaggiari e Maurizio Perugi (2004), César Nardelli Cambraia (2005).

Ieda Maria Magri

Título da tese: “Nasci no país errado” Ficção e confissão na obra de João Antônio

Orientador(a): Prof. Dr. Alcmeno Bastos

Páginas: 200

Resumo

A imagem de boêmio que João Antônio propagou desde o início de sua carreira, acrescida de um ar de desleixo com o próprio texto, reiterado sistematicamente na década de 70, tem pouco a ver com a de arquivista zeloso que se verificou depois de sua morte. João Antônio produziu e cultivou, uma após outra, imagens de escritor que ele queria que fossem vistas pelo público, e uma identidade afim com o malandro acabou perdurando por toda a sua carreira literária, apesar de ter pretendido, na década de 70, ultrapassar o universo da malandragem para colar-se a de homem do povo. Vemos em
seus textos, além das entrevistas e depoimentos, a afirmação de uma identidade de pobre, de humilde, de quem “cheira a povo”. Também uma afirmação de homem sentimental e incompreendido está presente já no texto de apresentação de seu primeiro livro, Malagueta, Perus e Bacanaço (1963), mas só viria à tona na década de 80, quando João Antônio estava interessado em recuperar a imagem de escritor preocupado com a fatura literária e em abrandar seu lado polemista, o mais conhecido do público. Todas essas personas entrevistas no percurso de sua carreira estão a serviço de seus projetos político-literários e dão conta do grau de consciência que o escritor tinha sobre seu papel na cultura brasileira e a condição, para ele obrigatória, de interferir nos problemas que cercam os universos social e literário. O saldo da atuação como autor-produtor é uma literatura que se alimenta da tensão vivida por quem escreve tendo como horizonte a provocação de mudanças na sociedade, repleta de confissões de fracasso e descrença nos sistemas editorial e político brasileiros, nos quais João Antônio mais tentou interferir.

Palavras-chave: Literatura brasileira; livros – comércio; ficção e confissão; jornalismo; anos 70|80.

Janderson Luiz Lemos de Souza

Título da tese: A distribuição semântica dos substantivos deverbais em -ção e -mento no português do Brasil: uma abordagem cognitiva

Orientadora: Maria Lucia Leitão de Almeida

Co-orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Páginas: 167

Resumo

Nesta tese, tratamos da formação de mais de um substantivo a partir do mesmo verbo no português do Brasil, como requerimento e requisição a partir de requerer, monitoração e monitoramento a partir de monitorar, recepção e recebimento a partir de receber, entre outros. O compromisso com a Linguística Cognitiva nos leva a tratar a nominalização de verbos, não como um fenômeno morfológico sensível ao fator semântico, e sim como um fenômeno semântico com repercussão morfológica, dedicado a suprir lacunas de significado no léxico com a conversão de escaneamento dinâmico em escaneamento estático. Com isso, este trabalho contribui para uma descrição do léxico com primazia da polissemia sobre a homonímia.

Palavras-chave: semântica; morfologia; linguística cognitiva; nominalização

Lígia Regina Calado de Medeiros

Título da tese: Mulher, mulheres: tateando o selvagem em personagens de Rachel de Queiroz e Clarice Lispector

Orientador(a): Professora Rosa Maria de Carvalho Gens

Páginas: 276

Resumo

Este trabalho de tese tem por princípio fazer um cotejo entre Rachel de Queiroz e Clarice Lispector. Mulheres que fizeram da escrita a sua ficção e mulheres representadas por elas na Literatura. Assim, sem a pretensão de estabelecer uma comparação de valor, o instigante desafio desta análise consiste em fazer, no sentido polifônico do termo, um contraponto entre as duas escritoras. Ou seja, perceber de que maneira as vozes de uma e de outra, cada qual ao seu modo, concorrem, em O quinze, Perto do coração selvagem, A hora da estrela e Memorial de Maria Moura, para a orquestração de um tema maior que é a
representação da mulher no texto literário, sob um prisma de relação com o selvagem. Analisar, portanto, as primeiras e as últimas obras, publicadas em vida, é também uma forma de acompanhar, textualmente, a maneira como a temática se apresenta em distintos momentos da produção. O termo ―selvagem‖ assume, dependendo do emprego, acepções diversas, tanto correspondendo aos sentidos da natureza quanto da sociabilidade. Ao primeiro se relacionam
referências ao agreste, primitivo, bravio, resvalando até para o feroz. Ao segundo se ligam requisitos que anunciam incivilidade grosseira. Por esta ótica, selvagem é o inconversável, o intratável, o inculto. Há, como se vê, diferentes aspectos de manifestação do conceito, compreendido de forma polarizada, como o faz Lévi Strauss (2004), na distinção que estabelece entre ―cru e cozido‖, para fazer oposição entre natureza e cultura; ou de forma relativizada, como aparece em textos organizados por Adauto Novaes (2004), em que o selvagem pode ser tomado como mediação para a relação entre nós e os outros. No jogo da diferença, selvagem muitas vezes é tão-somente o invertido, o negado e por que não dizer o explorado, para império de outra identidade. Neste entendimento, muito contribui a pesquisa na teoria de gênero para uma maior compreensão do universo representado nas obras supramencionadas. Perseguindo este propósito, então, o estudo sobre a representação da mulher passa por reflexões que consideram a autoria feminina, a inserção das autoras em território literário ainda ―selvagem‖, como proposto por Showalter (1994), a autonomia das personagens refletida também pela representação do corpo no texto, e os motivos narrativos que dão contribuição às imagens criadas. Por fim, contata-se que as duas escritoras, Rachel e Clarice, têm mais em comum do que faz supor uma primeira observação. Além de trajetórias de vida literária que em muito combinam entre si, a mulher criada por elas, aqui evidenciada, muito denuncia delas próprias e daquela, não raro posta à margem de exceção, vivida em seu tempo. Forte e decidida, como Conceição; reflexiva e amante, como Joana; impetuosa e guerreira como Maria Moura ou carente e pura, como Macabéa, todas elas constituem, na Literatura Brasileira, a representação de um tatear selvagem.

Liliane Machado

Título da tese: A insubmissão narrativa de horto de mágoas, de Gonzaga Duque

Orientador(a): Prof. Dr. Wellington de Almeida Santos

Páginas: 216

Resumo

Os contos de Horto de mágoas (1914), de Gonzaga Duque, mantêm complexas relações estéticas com o campo artístico da Belle Époque brasileira. Em um contexto marcado pelo domínio das narrativas de viés realista/naturalista – o dos anos iniciais do século XX, no Rio de Janeiro – constituem obra dissonante do cânone, construindo uma poética particular, vinculada ao Simbolismo/Decadentismo e marcada por elementos insólitos. Tal dissonância manifesta-se, sobretudo, no ceticismo diante da abrangência do conhecimento positivista, levando ao questionamento da relação do sujeito e da própria literatura com o mundo moderno, erigido pela ciência e pela tecnologia.

Palavras-chave: Horto de mágoas, Gonzaga Duque, Simbolismo/Decadentismo, narrativa insólita, Belle Époque brasileira

Márcia Carrano Castro

Título da tese: A construção do literário na prosa narrativa de Luiz Ruffato

Orientadora: Profª. Drª. Rosa Maria de Carvalho Gens

Co-orientadora: Profª. Drª. Maria Eugenia Lamoglia Duarte

Páginas: 227

Resumo

Este estudo pretende ser uma interface entre a prosa narrativa de Luiz Ruffato e o leitor, focalizando a destreza do romancista na construção do literário e fornecendo subsídios para um leitura reflexiva. O corpus escolhido centra-se nos quatro volumes publicados de Inferno provisório: Mamma, son tanto felice (2005), O mundo inimigo (2005), Vista parcial da noite (2006) e O livro das impossibilidades (2008). Incluem-se, nesta tese, breves análises de outros textos do Ruffato, como eles eram muitos cavalos (2001), romance, e O homem que tece (1979), poema, além de dados significativos sobre o contexto cultural em que se formou o escritor. A abordagem da obra se faz com base na diversidade e multiplicidade de fontes teóricas para atender a um novo romance, também múltiplo e diversificado em sua concepção. No entanto, preponderou o apoio teórico na obra de Michel Maffesoli, Gilles Lipovetsky, Zygmunt Bauman, assim como no Omar Calabrese de A idade neobarroca, na Linda Hutcheon de Uma teoria da paródia e na Eni Puccinelli Orlandi de As formas do silêncio. A metodologia também se afasta da unicidade para manter-se fiel ao direcionamento indicado pela prosa ruffatiana. O estudo busca apontar a qualidade e originalidade da obra do romancista mineiro, seja pelo aspecto linguístico, seja pela formatação dos romances que compõem Inferno provisório, seja pela apresentação de importante temática social.

Palavras-chave: literatura brasileira contemporânea, Luiz Ruffato, ficção, uso literário da língua.

Márcia Vieira Maia

Título da tese: O Imaginário das Viagens Marítimas em Narrativas Portuguesas e Africanas

Orientador: Prof. Dr. Jorge Fernandes da Silveira

Páginas: 162

Resumo

A configuração do imaginário das viagens marítimas, a partir da história das navegações, consolida-se no âmbito narrativo, através do qual são registrados os valores estruturais de cada época: a descoberta do conhecimento, o conceito de verdade, a aventura da escrita. Na cultura portuguesa, obras canônicas como a Peregrinação e a História Trágico-Marítima refletem as contradições intrínsecas à ideologia expansionista, estabelecendo um conjunto de paradigmas que, durante os séculos posteriores, constitui referência para os relatos de viajantes literários como Raul Brandão (em As ilhas desconhecidas), Jorge de Sena (em “A Grã-Canária”) e José Saramago (em O conto da ilha desconhecida). O resgate ficcional dessa memória na modernidade propicia tanto a reduplicação de modelos atemporais quanto sua subversão, particularmente quando enfocados sob a perspectiva do colonizado, a exemplo dos escritores africanos Arnaldo Santos (em As estórias de Kuxixima) e Mia Couto (em O outro pé da sereia). Com base na antropologia, na sociologia e na filosofia – suportes teóricos privilegiados nessa crítica textual – estabelecemos como as representações simbólicas e míticas atuam na construção, na experiência, na descolonização e na recriação do imaginário marítimo.

Palavras-chave: imaginário; viagem; mar; Portugal; África; narrativa

Michele Dull Sampaio Beraldo Matter

Título da tese: A Excursão Neo-Realista: o lugar do literário na tradição da utopia

Orientador(a): Teresa Cristina Cerdeira da Silva

Páginas: 393

Resumo

Com base em um instrumental crítico que se estabeleceu a partir dos anos 70 do século XX, no que se refere à leitura da obra literária como um corpo a ser percorrido, esta tese pretende ler os romances O Delfim e Balada da Praia dos Cães, de José Cardoso Pires, Levantado do Chão, de José Saramago e Sem Nome, de Helder Macedo, a partir do que se convencionou chamar aqui de excursão Neo-Realista. Esses romances foram escolhidos como metonímias de uma certa vivência estética da ética em tempos pós-utópicos e pós-modernos. A aposta inabalável na descoberta da necessidade de manter o elo discursivo com o outro – para tentar preencher a fascinação presente pelo vazio do discurso – é talvez o grande segredo desses textos que fizeram da questão neo-realista a sua intrínseca ruína, em termos claramente benjaminianos, e assim mantiveram vivo na contemporaneidade o desejo de subversão da realidade através da aprendizagem de uma visão desalienada do sujeito e do outro, que o Neo-Realismo, como exercício literário, colocou em prática. Este trabalho analisa o investimento consciente desses autores no trabalho com a linguagem em romances que souberam manter a utopia, por partilharem uma veia comum que é a aposta na fundação de uma nova ordem pela escrita através de uma nova ordem na escrita, crendo numa palavra que descobre, transforma e inventa a realidade.

Palavras-chave: Neo-Realismo, Literatura Contemporânea, Revolução, Ética, Utopia

Renata Lopes Marafoni

Título da tese: A Distribuição do Objeto Nulo no Português Europeu e no Português Brasileiro

Orientador(a): Maria Eugênia Lamoglia Duarte

Páginas: 159

Resumo

O objetivo deste trabalho é apresentar uma descrição dos contextos em que ocorre efetivamente o objeto nulo no Português Europeu (PE), comparando esses resultados com os obtidos para o Português Brasileiro (PB) por Marafoni (2004), entre outros. Partimos de estruturas apresentadas por Raposo (2004) com contextos estruturais que aceitam sem restrições / com restrições / ou rejeitam o objeto nulo no PE. Utilizamos entrevistas com amostras de fala, provenientes das gravações do CD-Oral-Rom (Cresti & Moneglia 2005) para o PE e das gravações das amostras Censo e Recontato (PEUL) para o PB. Testes de julgamento do PB e do PE também foram usados para complementar a análise. Os resultados apontam que PE e PB se diferenciam fortemente em termos qualitativos em relação ao objeto nulo. Enquanto um antecedente no discurso não constitui qualquer obstáculo ao objeto nulo no PE, o objeto nulo é fortemente condicionado por um antecedente dentro de uma estrutura sintática, que compreende uma principal e suas(s) subordinada(s). Em tais estruturas, o objeto nulo é aceito por alguns falantes se seu antecedente estiver na mesma função e apresentar o traço [-animado]. Para o PB as restrições se limitam a um antecedente sujeito de verbos psicológicos. Este estudo utiliza como teoria linguística a Teoria de Princípios e Parâmetros, focalizando o Parâmetro do Objeto Nulo e as propriedades a ele associadas, e como modelo de mudança aquele proposto por Weinreich, Labov & Herzog (2006[1968]).

Palavras-chave: Parâmetro do objeto nulo, variantes/ gramáticas em competição, restrições, Português Europeu, Português Brasileiro.

Sergio Drummond Madureira Carvalho

Título da tese: As Pretônicas <e> e <o> no Português Europeu

Orientador(a): Profª. Drª. Sílvia Figueiredo Brandão 

Páginas: 183

Resumo

Estudo, na linha sociolinguística variacionista, sobre as pretônicas <e> e <o> na variedade culta do Português do Brasil e do Português Europeu nas décadas de 1970 e 1990, com base em dados selecionados do Corpus Varport.

Tereza Paula Alves Calzolari

Título da tese: Três livros distintos e um só verdadeiro: a unidade de corpo de baile, de João Guimarães Rosa

Orientador(a): Prof. Dr. Wellington de Almeida Santos

Páginas: 173

Resumo

A tese tem por objetivo estudar Corpo de baile, de João Guimarães Rosa, como uma unidade, o que é apontado já desde o título da obra, em acordo com o projeto original do autor para o livro. Para tal, utilizaremos a primeira edição de Corpo de baile, de 1956, tendo em vista sua gradativa descaracterização, a partir da terceira edição, quando a obra é tripartida e cada volume recebe um novo título, a saber, Manuelzão e Miguilim (1964), No Urubuquaquá, no Pinhém (1965) e Noites do sertão (1965). A coexistência de dois índices, nomenclaturas diversas para os textos (novelas, romances e Gerais, contos e parábases), epígrafes comuns e específicas, referências e citações, migração de temas e personagens, inserção de estórias, representação de cantigas e danças, com o uso, muitas vezes, de recursos do teatro e da poesia, fazem de Corpo de baile uma síntese celebrativa da arte e da vida, considerando, dentre outros aspectos, seu caráter cíclico e repetitivo. Assim, dedicamos o primeiro capítulo da tese à análise da organização da obra, para, na sequência, examinarmos uma a uma as sete narrativas, segundo a disposição original, perfazendo, deste modo, o percurso sugerido pelo autor.

Palavras-chave: Guimarães Rosa; Corpo de baile; Crítica e interpretação.

Terezinha de Jesus Aguiar Neves

Título da tese: Do alarme do mundo e das celebrações da escrita na poética de João Maimona

Orientador(a): Profª. Drª. Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco.

Páginas: 136

Resumo

A proposta deste estudo é refletir sobre a angústia e a jubilação da escrita em João Maimona. De início, nossa pesquisa recai sobre Trajectória obliterada e Traço de união, livros da primeira fase poética de Maimona que permitem observar a presença de um eu-lírico alarmado diante de uma realidade chocante no pós-independência de Angola e frente à dificuldade da escrita para reconstruir, imaginariamente, conjunturas tão angustiantes. Outra abordagem incide sobre No útero da noite e O sentido do regresso e a alma do barco, a fim de examinar a segunda fase desse poeta. Para a fundamentação teórica da angústia, escolhemos o pensamento de Sartre, em sua riqueza de ideias para análise dos poemas de Maimona que polarizam aspectos do humano, da cultura e do estético. Para questões sobre a linguagem, consideramos que as reflexões críticas de Walter Benjamin e Agamben são contribuições valiosas em um estudo sobre poesia.

TESES DEFENDIDAS EM 2009

Total de teses defendidas:  15

Angelina Aparecida de Pina

Título da tese: Por uma nova “percepção” sobre um antigo problema: Estudo cognitivo-construcional do sujeito indeterminado com se em português

Orientador(a): Ana Flávia Lopes Magela Gerhardt

Páginas: 140

Resumo

Motivada pela não-concordância sistemática do verbo com o SN em sentenças consideradas pela gramática normativa como exemplos de passiva sintética, esta tese tem por objetivo explicar em termos cognitivos e construcionais por que sentenças como Aluga-se quarto(s) não são de voz passiva sintética, mas sim de sujeito indeterminado. Tendo por base a Lingüística Cognitiva, em especial os campos da Semântica Cognitiva, da Teoria dos protótipos, e da Gramática das Construções, foram obtidas algumas conclusões, a saber: a categoria do sujeito é radial, sendo o sujeito indeterminado não-prototípico, cuja característica principal é ser fundo em relação a seu predicado. Há mais de uma construção de indeterminação, e todas codificam um construto não-canônico, em que o participante principal é perceptual e cognitivamente menos saliente. Não existe passiva sintética no português. A construção genérica V-seSuj.Indet Compl. Verbal permite a integração de diferentes verbos e não equivale à passiva analítica, nem à construção com sujeito alguém.

Palavras-chave: sujeito indeterminado, organização figura-fundo, categoria radial, construção gramatical

Eduardo dos Santos Coelho

Título da tese: Arqueologia da composição: Manuel Bandeira

Orientador(a): Eucanaã de Nazareno Ferraz

Páginas: 219

Resumo

A poética de Manuel Bandeira no contexto modernista. O contato do poeta com técnicas tradicionais ou vanguardistas de criação. O poema de substrato biográfico e o poema “impessoal”. Construção e inspiração na lírica bandeiriana.

Elenice Santos de Assis Costa de Souza

Título da tese:A Interpretação das Cláusulas Relativas no Português do Brasil: um Estudo Funcional

Orientador(a): Profª. Drª. Violeta Virginia Rodrigues

Co-orientador(a): Profª. Drª. Myrian Azevedo de Freitas

Páginas: 262

Resumo

Este estudo analisou as cláusulas relativas finitas do português brasileiro contemporâneo com base em amostra constituída a partir de textos do domínio discursivo jornalístico. Foram usados textos das duas modalidades lingüísticas (oral e escrita) correspondentes aos seguintes gêneros textuais: editorial, artigo, crônica, entrevista e notícia. A análise pautou-se na metodologia qualitativa sob o enfoque teórico do Funcionalismo, mais precisamente da Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday (1994), além de outros estudos complementares. Assim, as relativas foram examinadas não só no nível da cláusula, como também no âmbito do texto e dos contextos de situação e de cultura. Entende-se como cláusula relativa finita a construção que se subordina a um SN, denominado antecedente, por meio de um pronome relativo, com o qual estabelece uma relação de predicação. O SN antecedente pode ser
constituído, no mínimo, por um nome, por um pronome ou por uma categoria lexicalmente vazia. A subordinação pode realizar-se por hipotaxe ou por encaixamento, nos termos de Lehmann (1988). A cláusula relativa hipotática funciona como adjunto em relação ao SN antecedente, e a encaixada, como argumento, de acordo com Decat (1999). Comprovou-se a hipótese de que a classificação binária das relativas não recobre todos os seus usos, havendo quatro categorias dessas cláusulas: não-restritiva prototípica, não-restritiva não-prototípica, restritiva prototípica e restritiva não-prototípica. Os principais fatores determinantes dessa tipologia são o grau de definitude e o status informacional do SN antecedente. O status informacional foi estabelecido segundo duas perspectivas: a do texto e a do leitor/ouvinte, de acordo com Prince (1992). Concluiu-se que as relativas prototípicas são determinadas no âmbito da gramática a partir do grau de definitude do SN antecedente. Já as relativas não-prototípicas dependem de correlações mais complexas entre esse aspecto formal e fatores textual-discursivos, dentre os quais destaca-se a informatividade. Quanto à modalidade oral, analisada acusticamente com base instrumental, concluiu-se que entram em jogo aspectos prosódicos, principalmente a entoação e a pausa. As restritivas pospostas prototípicas caracterizam-se pela ausência de marcas prosódicas, enquanto as não-restritivas são marcadas por uma segmentação em relação à cláusula matriz, cuja principal manifestação é o tom de fronteira, sendo a pausa um fator secundário. Dessa forma, no que tange à distinção entre as cláusulas relativas, a prosódia mostrou-se congruente com a sintaxe, comprovando-se a interrelação entre os dois domínios. Essa interrelação tem desdobramentos no âmbito semântico e discursivo. Embora os vários tipos de relativas propostos se concentrem em torno dos pólos da restrição e da não-restrição, a hipótese central postulada nesta tese foi comprovada visto que há quatro categorias dessas cláusulas, evidenciando, assim, sua gradiência.

Haron Jacob Gamal

Título da tese: Escritores brasileiros “estrangeiros”: a representação do anfíbio cultural em nossa prosa de ficção

Orientador(a): Prof. Dr. Antonio Carlos Secchin

Páginas: 252

Resumo

Esse trabalho tem por objetivo pesquisar a representação do anfíbio cultural em nossa prosa de ficção. Entende-se por anfíbio cultural a questão da temática do estrangeiro, discutida por escritores, sobretudo, binacionais, oriundos dos movimentos de imigração ocorridos no Brasil durante o século XX. Através de livros de Raduan Nassar, Per Johns, Milton Hatoum, Samuel Rawet e Moacyr Scliar, pretende-se investigar o lugar, ou o não-lugar, de personagens com experiência bilíngue (ou binacional). A base teórica da pesquisa está alicerçada principalmente em Immanuel Kant, Walter Benjamin e Erich Auerbach.

Palavras-chave: literatura brasileira, literatura anfíbia, anfíbio cultural, literatura e imigração.

Kate Lúcia Portela de Assis

Título da tese: Dar/ Fazer/ Ter queixa: queixar-se? A alternância entre construções perifrásticas e verbos plenos correspondentes

Orientador(a): Dinah Maria Isensee Callou

Páginas: 221

Resumo

Neste trabalho, discute-se a alternância de uso entre verbos plenos (planejar, brigar, beijar) e construções perifrásticas formadas pelos verbos ter, dar e fazer (fazer planos, ter uma briguinha, dar um beijo). Defende-se a idéia de que a opção pelo uso de uma ou outra forma poderá acarretar diferentes efeitos semânticos, discursivos e pragmáticos, conforme elucidam alguns autores. A diferença, especialmente semântica, reflete alterações na versatilidade sintática, passa pela pragmática e interfere na escolha feita pelo falante. Este fenômeno lingüístico é analisado sob a ótica da Sociolingüística Quantitativa Laboviana, no pressuposto de existir, entre as formas simples e perifrásticas, comparabilidade funcional, ainda que não haja exatamente o mesmo significado. O objetivo é fornecer uma visão mais nítida dos possíveis condicionamentos de uso dessas locuções verbo-nominais, comutáveis por verbos plenos correspondentes. Toma-se por base um conjunto de dados referentes ao uso (dados de fala e escrita do PB e do PE) e concernentes à percepção (aplicação de testes de verificação de atitudes lingüísticas). Contatou-se que o índice de perífrases é bem menor que o de verbos plenos, independentemente do nível de escolarização, classe social, sexo, idade, bem como de se tratar de fala ou escrita, não ocorrendo, de fato, a chamada proliferação de verbos leves, nem
no PB, nem no PE. Por outro lado, os testes de verificação de atitudes lingüísticas revelaram que a situação comunicativa e a intenção do falante, bem como a relação entre locutor e interlocutor, também podem influenciar na opção por uma forma perifrástica. Além disso, esta pesquisa defende, conforme comentário de um dos informantes, que “ambas as formas são válidas”, a depender do propósito comunicativo dos falantes.

Luciana dos Santos Salles

Título da tese: Poesia e o diabo a quatro: Jorge de Sena e a escrita do diálogo.

Orientador(a): Profª. Doutª. Luci Ruas Pereira

Páginas: 161

Resumo

Jorge de Sena atua como um diabólico sedutor de outras linguagens. Atraindo-as e juntando-se a elas num processo erótico de trocas, obtenção de conhecimento e criação, Sena produz uma obra que, dialogando com várias formas de expressão, transita livremente por todas as áreas do conhecimento humano. Partindo desta premissa, realizamos neste trabalho uma leitura interdisciplinar de sua obra, explorando a poesia de Sena através desse prisma de multiplicidade e diálogo intersemiótico, e verificando o mecanismo por meio do qual o poeta articula mitologia, história ciência e artes – pintura, escultura, arquitetura, música e cinema – para a composição de sua linguagem poética.

Palavras-chave: Jorge de Sena, Poesia, Semiótica, Epistemologia, Interdisciplinaridade

Luiz Fernando de Moraes Barros

Título da tese: E Amor Não Tem Saída A velhice Enamorada à Luz de Gil Vicente

Orientador: Profª. Drª. Cleonice Berardinelli

Co-orientador: Profª. Drª. Gilda Santos

Páginas: 198

Resumo

Investigação sobre o lirismo amoroso presente em diferentes autos de Gil Vicente, principalmente no Auto do Velho da Horta e em A Comédia do Viúvo, com
enfoque nas personagens que representam a velhice, ora libidinosamente apresentada (senex amator), ora sentimentalmente construída (senex amans). Para tanto, foi necessária a problematização dos gêneros lírico e dramático e suas interlocuções na cena teatral, além de considerações sobre o jogo alusivo na literatura, tendo como ponto principal as estratégias de imitatio e transformatio que compõem o princípio emulativo. Ao longo da análise, outras obras ibéricas sobre o mesmo tema foram colocadas em diálogo com os textos vicentinos, para que se pudesse compreender a recorrência e as transformações dessa tópica no século XVI, com indicativos de sua permanência nos séculos seguintes.

Palavras-chave: Lirismo amoroso; gênero dramático; jogo alusivo; velhice

Luiz Palladino Netto

Título da tese: Uma edição de cartas de mercadores portugueses do século XVIII e o uso variável do artigo diante do possessivo

Orientador: Professor Doutor Afranio Gonçalves Barbosa

Páginas: 401

Resumo

Edição diplomático-interpretativa de cartas de comércio escritas em Portugal no final do século XVIII. Considerações acerca do contexto histórico-social do período supracitado, com ênfase em aspectos do ensino, da gramática, da história e do comércio. Discussão sobre o estabelecimento de uma tipologia textual. Breve abordagem das Tradições Discursivas nas cartas. Investigação laboviana, precedida de uma revisão da literatura, a respeito do emprego variável do artigo diante de pronomes possessivos e nomes.

Marco Antônio Ferreira Marinho

Título da tese: Do Latim ao Português: percurso histórico dos sufixos -dor e -nte

Orientador: Professor Doutor Carlos Alexandre Victório Gonçalves

Páginas: 212

Resumo

O objetivo deste Trabalho é apresentar o percurso histórico de dois sufixos agentivos deverbais: –DOR e –NTE. Utilizamos para tal duas perspectivas de
análise: a Morfologia Derivacional de base gerativa – com centro nos trabalhos de Aronoff (1976) e Basílio (1980) – e a Morfologia Diacrônica, conforme apresentada em Joseph (1998). O corpus principal foram verbetes do Houaiss Eletrônico de 2002. O método de investigação seguiu seis passos: (a) definimos os grupos de afinidade semântica de cada um dos sufixos no português atual; (b) examinamos os significados que –DOR e –NTE possuíam no latim escrito; (c) empregamos o método histórico-comparativo nos grupos semânticos dos formativos; (d) apontamos as irregularidades advindas do passo anterior; (e) pesquisamos as datas de entrada dos vocábulos envolvidos em todos os grupos de afinidade semântica de –DOR e –NTE; e (f) repetimos o que foi aventado em (e) para palavras das outras línguas românicas trabalhadas. Em termos de resultado, isso evidenciou que os sufixos vão, com o passar do tempo, adquirindo novos significados.

Palavras-chave: -DOR, -NTE, Morfologia Derivacional, Morfologia Diacrônica, percurso histórico e significados.

Marco Aurélio de Sousa Mendes

Título da tese: A personagem em Fernando Cesário, Luiz Ruffato e Ronaldo Cagiano: alteridade e desenraizamento em três universos

Orientador(a): Professora Doutora Rosa Maria de Carvalho Gens

Páginas: 179

Resumo

Este trabalho tem como objetivo demonstrar que a temática do desenraizamento e a questão da alteridade são características definidoras das obras Alma de violino, de Fernando Cesário, Dezembro indigesto, de Ronaldo Cagiano e eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato. A abordagem é feita através de um estudo das personagens. O estudo se exime da tarefa de estabelecer comparações entre as obras, mas opta por analisar a forma como os autores inserem os aspectos temáticos na estruturação das criaturas engendradas por eles. Há um esforço para se confirmar a prevalência de personagens marginalizados, que provocam estranhamento, ou sofrem por não conseguirem uma inclusão no meio em que vivem. Procura-se evidenciar como as minorias — negros, homossexuais, ciganos, loucos e mulheres — são retratadas. Um enfoque especial é concedido à observação da maneira como se estruturam as figuras femininas. Existe também a intenção de investigar o papel que o espaço ficcional desempenha nas narrativas e a tentativa de comprovar que as cidades retratadas nas obras ultrapassam a dimensão de cenário, tomando parte ativa na condução dos eventos.

Palavras-chave: alteridade, personagens, estranhamento, desenraizamento.

Mayara Ribeiro Guimarães

Título da tese: Clarice Lispector e a devia dos continentes: da descoberta do mundo à encenação da escrita

Orientador: Prof. Doutor Ronaldes de Melo e Souza

Páginas: 249

Resumo

Este trabalho tem como objetivo demonstrar que a temática do desenraizamento e a questão da alteridade são características definidoras das obras Alma de violino, de Fernando Cesário, Dezembro indigesto, de Ronaldo Cagiano e eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato. A abordagem é feita através de um estudo das personagens. O estudo se exime da tarefa de estabelecer comparações entre as obras, mas opta por analisar a forma como os autores inserem os aspectos temáticos na estruturação das criaturas engendradas por eles. Há um esforço para se confirmar a prevalência de personagens marginalizados, que provocam estranhamento, ou sofrem por não conseguirem uma inclusão no meio em que vivem. Procura-se evidenciar como as minorias — negros, homossexuais, ciganos, loucos e mulheres — são retratadas. Um enfoque especial é concedido à observação da maneira como se estruturam as figuras femininas. Existe também a intenção de investigar o papel que o espaço ficcional desempenha nas narrativas e a tentativa de comprovar que as cidades retratadas nas obras ultrapassam a dimensão de cenário, tomando parte ativa na condução
dos eventos.

Palavras-chave: alteridade, personagens, estranhamento, desenraizamento.

Regina Celia Pereira Werneck de Freitas

Título da tese: A enunciação narrativa e a construção do Ethos de Paulo Honório

Orientador: Professora Doutora Maria Aparecida Lino Pauliukonis

Páginas: 204

Resumo

Estudo do papel de itens lexicais e de outras marcas linguísticas a serviço da construção metaenunciativa do romance e do ethos de Paulo Honório, personagem principal e narrador do texto literário São Bernardo de Graciliano Ramos. Levantamento do uso de tempos verbais; advérbios (-mente); substantivos, adjetivos afetivos e avaliativos, expressões nacionais, e sua utilização para a definição do ethos.

Roberto Botelho Rondinini

Título da tese: O acento primário no latim clássico e no latim vulgar: o tratamento da mudança na perspectiva da teoria da otimalidade

Orientador(a): Prof. Dr. Carlos Alexandre Gonçalves

Páginas: 183

Resumo

Esta Tese analisa o acento primário em não-verbos nas variedades clássica e vulgar do latim e evidencia como a Teoria da Otimalidade (TO) compreende e trata a questão da mudança lingüística. A análise dos dados fundamenta-se no pressupostos da TO, nos moldes de Prince & Smolensky (1993), modelo que substitui a noção de regras em favor de restrições que podem ser violadas sem, no entanto, gerar elementos agramaticais. A mudança baseia-se nos estudos de Holt (1997) e Hutton (1996) e, por meio da delimitação de diferentes sincronias, verificamos que a demoção de restrições é o fator responsável pela efetiva mudança na aplicação do acento primário em não-verbos latinos.

Palavras-chave: Teoria da Otimalidade, Acento, Latim, Mudança Lingüística

Suzana de Sá Klôh

Título da tese: Clarice Lispector e o narrar-se

Orientador(a): Professor Doutor Wellington de Almeida Santos

Páginas: 137

Resumo

Esta tese propõe uma análise da presença ficcionalizada de Clarice Lispector em sua produção, bem como de sua visão sobre o processo da escrita. O jogo do autobiográfico que, na obra clariceana, relaciona-se também ao da concepção da narrativa, realiza-se, num primeiro momento, em sua escrita dita menor, motivada por necessidades financeiras, mais próxima do dia-a-dia, frequentadora das páginas de jornais e revistas: importam, aqui, as máscaras utilizadas por Clarice para escrever suas colunas femininas, Clarice entrevistadora, Clarice cronista. Esses textos, em que a figura da escritora aparece ficcionalizada, contaminam também sua produção literária última: em livros como A via crucis do corpo (1974), A hora da estrela (1977) e Um sopro de vida (1978), a presença de Clarice Lispector se insinua e se funde à do outro, possibilidade de, como se diria sobre Fernando Pessoa, “outrar-se”, vivendo várias vidas em uma só. Essa duplicação da figura de Clarice Lispector em sua obra em momento algum deve ser entendida como mera autobiografia, mas sim uma tendência de sua escrita derradeira, agônica, em que a ironia, a paródia, a intertextualidade e a técnica do mise en abyme têm essencial papel. Caixa dentro de caixa, reflexos de espelhos estilhaçados, os textos selecionados revelam-nos uma tessitura em que se ligam os diversos fios que compõem a obra clariceana, em um todo ao mesmo tempo diverso e uno.

Palavras-chave: Literatura brasileira; narrativa; relação entre escritora, narradora e personagem; caminhada do eu para a descoberta de si mesmo, do outro e do mundo.

Vanessa Ribeiro Teixeira

Título da tese: As alegorias dos sentidos e as reconfigurações da história no Memorial do convento e n’A gloriosa família

Orientadora: Professora Doutora Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco

Coorientadora: Professora Doutora Teresa Cristina Cerdeira da Silva

Páginas: 241

Resumo

Processos de releitura e reconfiguração dos discursos histórico e literário em Memorial do convento e A gloriosa família – o tempo dos flamengos. Valorização dos sentidos humanos como elementos propícios à apreensão do mundo e das verdades possíveis. Significados alegóricos da visão, da audição, do tato, do olfato, do paladar e da imaginação nos romances analisados.